Recomeço É sempre tempo de recomeçar
Mensagem AS PESSOAS PRECISAM DE ALGUÉM... O mundo inteiro está cheio de pessoas. Há pessoas caladas que precisam de alguém para
conversar. Há pessoas tristes que precisam de alguém para
as confortar. Há pessoas tímidas que precisam de alguém para
as ajudar vencer a timidez. Há pessoas sozinhas que precisam de alguém para
amar. Há pessoas com medo que precisam de alguém para
lhes dar a mão. Há pessoas fortes que precisam de alguém para as
fazer pensar na melhor maneira de usarem a sua força. Há pessoas habilidosas que precisam de alguém
para ajudar a descobrir a melhor maneira de usarem a sua habilidade. Há pessoas que julgam que não sabem fazer nada e
precisam de alguém que as ajude a descobrir as muitas coisas que afinal
sabem fazer. Há pessoas apressadas que precisam de alguém
para lhes mostrar tudo o que não tem tempo para ver. Há pessoas impulsivas que precisam de alguém
para as ajudar a não magoar os outros. Há pessoas que se sentem de fora e precisam de
alguém para lhes mostrar o caminho de entrada. Há pessoas que dizem que não servem para nada e
precisam de alguém para as ajudar a descobrir como são importantes. Precisam de alguém. Talvez de você...
Número 27 * Ano 1 Jornal dos Detentos da Cadeia Pública de Leopoldina –
MG 02 de fevereiro 2002
NOTÍCIA EXEMPLO DE UM
RECOMEÇO - A história de Esmeralda, ex-menina de rua,
ex-viciada em drogas, ex-traficantes de crack que
mudou a sua vida Na quinta-feira passada, Esmeralda
Ortiz, de 21 anos, mais uma vez entrou na categoria de exceções, quando leu
seu nome numa lista de aprovados no vestibular.
Negra, filha de pai desconhecido e de mãe alcoólatra, ex-menina de
rua, ex-viciada em drogas, ex-traficantes de crack e ex-líder de quadrilha
de adolescentes, ela viu quase todos os seus parceiros e colegas morrerem,
vítimas de tiros ou de doenças que prosperaram por falta de cuidados. Apenas o fato de ter sobrevivido já a
colocaria na categoria de exceção. Mais excepcional ainda foi investir nos
estudos; adolescente, não tinha completado a quarta série do ensino
fundamental. "Eu me sentia burra, não conseguia entender nada na
escola", dizia.
Quando decidiu escrever sobre suas experiências, encontrou o título do livro: "Por que não
dancei". O relato de uma ex-quase morta, que rabiscava na rua suas
poesias em cadernos sujos. No
final do livro, em que conta sua trajetória, expôs dois projetos: ter uma
família e, quem sabe, cursar uma faculdade. Não
queria mais ser "ex"; queria montar um projeto de futuro.
"Não vou ficar 'cafetinando' meu passado". Entrou na briga. Foi no supletivo noturno
oferecido pelo Colégio Santa Cruz, aonde chegava de bicicleta. Alugou, nas
proximidades, um quarto nos fundos de uma casa. Para
ganhar a vida, trabalha num programa de arte-educação - aprendeu com a
artista plástica Flávia del Prá como produzir mosaicos de azulejos - e dá
palestras nas escolas que adotam seu livro, já na sexta edição. Em
dezembro, começou a percorrer a maratona dos vestibulares sem muita
esperança, especialmente nas instituições públicas. Na semana passada,
experimentou a doce vertigem de ver seu nome na lista da Universidade
Anhembi-Morumbi. "É apenas o começo", comemora, sem saber que,
certamente, está ajudando a mudar a história do ensino superior do Brasil. A
história é maior do que se imagina. Quando uma ex-menina de rua faz da
faculdade um sonho, há algo de novo no país. Por todo o Brasil,
disseminam-se nas comunidades mais pobres cursinhos pré-vestibular
oferecidos gratuitamente por voluntários. Resumo do artigo de Gilberto
Dimenstein da Folha de São Paulo