A evolução dos mamíferos mais desenvolvidos, incluindo os chimpanzés, os cetáceos e os humanos, criou um novo nível de consciência chamado “auto-consciência” ou mente consciente. Foi um passo muito importante em termos de desenvolvimento. A mente anterior, predominantemente subconsciente, é nosso “piloto automático”; já a mente consciente é nosso controle manual. Por exemplo: se uma bola é jogada em direção ao seu rosto, a mente consciente, mais lenta, pode não reagir em tempo de evitar a ameaça. Mas a mente inconsciente, capaz de processar cerca de 20 milhões de estímulos ambientais por segundo versus 40 estímulos interpretados pela mente consciente no mesmo segundo, nos fará piscar e nos desviar (Norretranders, 1998). A mente subconsciente [1], um dos processadores de informações mais poderosos de que se tem notícia até hoje, observa o mundo ao nosso redor e a consciência interna do corpo, interpreta os estímulos do ambiente e entra imediatamente em um processo de comportamento previamente adquirido (aprendido). Tudo isso sem ajuda ou supervisão da mente consciente.
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As duas mentes formam uma dupla dinâmica. Ao operar em conjunto, a mente consciente pode utilizar seus recursos para se concentrar em um objeto específico, como a festa na próxima sexta-feira, por exemplo. Ao mesmo tempo, a mente subconsciente mantém seus movimentos enquanto você corta a grama sem que a distração o faça passar o cortador em seu pé ou no gato deitado no jardim. Conscientemente você não está necessariamente prestando atenção ao que está fazendo.
As duas mentes também trabalham em conjunto para adquirir comportamentos mais complexos que mais tarde serão desenvolvidos inconscientemente. Você se lembra de seu primeiro dia de aula de direção, quando se sentou no banco do motorista? Parecia haver comandos demais para operar ao mesmo tempo: você tinha de manter os olhos na estrada ou na rua, observar o espelho retrovisor e os laterais, prestar atenção à velocidade e às luzes indicadoras no painel, usar os dois pés em três pedais e se manter calmo no trânsito. A impressão era de que levaria uma eternidade até todos aqueles comportamentos serem “programados” em sua mente.
Hoje você entra no carro, liga o motor e pensa em sua lista de compras no supermercado, enquanto a mente subconsciente desempenha todas as manobras complexas que lhe permitem rodar pela cidade. Você não precisa se preocupar, ainda que por um segundo, com o ato de dirigir. É um processo que acontece com todos os motoristas. Você pode dirigir e, ao mesmo tempo, ter uma conversa agradável com o passageiro ao seu lado. Sua mente consciente fica tão ocupada com a conversa que somente depois de uns cinco minutos você percebe que nem prestou atenção ao que está fazendo. Sabe que está no lado certo da pista e que está seguindo o tráfego normalmente. Se olhar pelo retrovisor, verá que não atropelou os pedestres nem destruiu os postes no caminho. Mas se não era você que estava conscientemente dirigindo até aquele instante, quem era então? A mente subconsciente! E será que se saiu tão bem? Embora você não tenha prestado atenção ao seu comportamento ao longo de todo aquele trecho da viagem, sua mente subconsciente aparentemente desempenhou bem a tarefa de dirigir, exatamente como foi ensinada na auto-escola.
Além de facilitar os programas habituais subconscientes, a mente consciente é espontaneamente criativa em suas reações aos estímulos ambientais. Por ter habilidade de auto-reflexão, a mente consciente pode observar o comportamento no momento em que ele é colocado em prática. À medida que um comportamento pré-programado entra em ação, ela pode intervir, interrompê-lo e criar uma nova resposta para aquele estímulo. Isso nos dá o livre arbítrio e mostra que não somos meras vítimas de nossa programação. No entanto, para modificar esses padrões estabelecidos temos de estar totalmente conscientes para que a programação não se sobreponha à nossa vontade, uma tarefa bastante difícil. Qualquer um sabe o que é lutar contra os hábitos. A programação subconsciente assume o controle toda vez que a mente consciente se distrai.
A mente consciente também pode avançar e retroceder no tempo ao passo que a mente subconsciente opera apenas no mo¬mento presente. Enquanto a mente consciente sonha, fazendo planos para o futuro ou relembrando experiências passadas, a mente subconsciente está sempre ocupada administrando com eficiência o comportamento exigido no momento, sem a necessidade de supervisão consciente.
As duas mentes formam um mecanismo fenomenal, porém, algo sempre pode dar errado. A mente consciente é o “eu”, a voz de nossos pensamentos. Pode ter grandes visões e fazer planos para o futuro cheios de amor, saúde, felicidade e prosperidade. Contudo, enquanto estamos mergulhados nesses pensamentos, quem está por trás dos bastidores? O subconsciente. E como ele trata nossos sentimentos e preocupações? Exatamente como foi programado para fazer. No tempo em que estamos distraídos com nossos pensamentos, a mente subconsciente pode colocar em ação comportamentos diferentes daqueles que nós mesmos criamos, pois a maioria do que temos armazenado em nossa memória foi “copiada” quando observávamos as outras pessoas durante a infância. E como não fizemos isso conscientemente, muitas vezes nos surpreendemos se alguém nos diz que agimos “exatamente como nossa mãe ou nosso pai”, que ajudaram a programar nossa mente subconsciente.
Os comportamentos e crenças que aprendemos de nossos pais, colegas e professores podem não ser os mesmos que imaginamos para a nossa vida usando a mente consciente. Os maiores obstáculos para alcançarmos o sucesso a que almejamos são as limitações programadas em nosso subconsciente. Essas limitações não só influenciam nosso comportamento, mas também determinam nossa fisiologia e saúde. Como já mencionei, a mente tem um papel muito importante no controle dos sistemas biológicos que nos mantêm vivos.
A intenção da natureza não foi criar uma mente dupla que acabasse se transformando em um calcanhar de Aquiles. Na verdade, essa dualidade pode ser uma grande vantagem. Pense no seguinte: o que aconteceria se tivéssemos pais e professores totalmente conscientes de que servem de modelos perfeitos de vida, sempre envolvidos em relações humanitárias e não competitivas com todos na comunidade? Se nossa mente subconsciente fosse programada para esses comportamentos saudáveis, poderíamos ter uma vida maravilhosa e de grande sucesso sem ao menos precisar ter consciência disso!
A MENTE SUBCONSCIENTE:
ESTOU CHAMANDO, MAS NINGUÉM RESPONDE
Enquanto a natureza “imaginativa” da mente consciente evoca imagens de um “fantasma na máquina”, a mente subconsciente não dispõe desse recurso. Ela funciona mais ou menos como um juke-box [2] carregado com programas de comportamento prontos para serem utilizados toda vez que um sinal do ambiente pressiona a tecla correta. Se não gostamos de determinada música, adianta reclamar da máquina? Em minha época de faculdade, cheguei a ver muitos alunos embriagados reclamar e chutar juke-boxes nos bares porque não estavam contentes com a programação musical. Da mesma maneira, devemos nos conscientizar de que não adianta gritar ou reclamar quando a mente consciente não consegue mudar nossos padrões programados de comportamento. Quando nos convencemos de que táticas desse tipo não funcionam, deixamos de lutar com a mente subconsciente e procuramos técnicas mais científicas para reprogramá-la. Do contrário, estaremos apenas chutando a máquina na esperança de que ela mude a programação.
No entanto, não é fácil aceitar que não podemos guerrear contra nosso subconsciente, pois um dos conceitos que a maioria de nós adquiriu na infância é de que “o poder da vontade é maior que tudo”. Por isso lutamos tanto contra nossa programação subconsciente, mas as células são obrigadas a seguir as ordens dessa programação.
Essa guerra entre o livre arbítrio consciente e o programa subconsciente pode resultar em sérios problemas neurológicos. Para mim, um bom motivo para não entrarmos nesse tipo de batalha é aquele mostrado no filme Shine, baseado em uma história real. O pianista australiano David Helfgott desafia seu pai ao decidir ir para Londres estudar música. O pai, um sobrevivente do Holocausto, programou a mente subconsciente de seu filho com a crença de que o mundo é perigoso e que enfrentá-lo poderia ameaçar sua vida. Insistiu que o filho só estaria seguro se permanecesse próximo de sua família. Apesar de toda a programação do pai, Helfgott tinha certeza de que era um grande pianista e que tinha de se libertar da família para realizar seu sonho.
Em Londres, tocou uma peça muito difícil, “O Terceiro Concerto de Rachmaninoff”, em uma competição. O filme mostra o conflito entre a mente consciente do rapaz, tentando obter sucesso, e sua mente subconsciente, dizendo-lhe que estar visível e ser internacionalmente reconhecido poderia trazer riscos à sua vida. Durante o concerto, enquanto Helfgott sua em bicas e toca desesperadamente o piano, sua mente consciente luta para manter o controle, porém, seu subconsciente, com medo de que ele vença a competição, tenta assumir o controle do corpo. Ele se mantém firme até a última nota, mas desmaia logo depois, exaurido pela batalha. Quando volta a si, paga um alto preço por sua “vitória”: a insanidade mental.
A maioria de nós vive em constante luta com a mente subconsciente, tentando modificar a programação recebida na infância.
Basta pensar nas inúmeras tentativas fracassadas de conseguir um bom emprego ou no tempo que permanecemos trabalhando e vivendo em lugares que detestamos simplesmente porque não “merecemos coisa melhor”.
Alguns métodos para suprimir os comportamentos destrutivos são drogas e terapia. Mas já existem novos procedimentos que podem mudar nossa programação sem a necessidade de “luta” com os registros subconscientes[3]. São técnicas baseadas nas descobertas da física quântica que reúnem energia e pensamento. Na verdade, trata-se de modalidades de tratamento que podem ser chamadas de psicologia da energia, um ramo novo da nova biologia.
Extrato do livro: A BIOLOGIA DA CRENÇA – Bruce H. Lipton
Notas:
[1] Semelhante ao conceito budista de Alayavijnana, que é o depósito de nossas experiências passadas. Em primeiro lugar, a consciência do Alaya é a origem de todas as existências. Há olho e a função do olho, e eles surgiram da consciência do Alaya. E não somente isso, mas esse corpo, esse ambiente, a natureza, a casa, a montanha, tudo vem da consciência do Alaya. Por isso é que se chama Alaya-Vijnana, consciência de depósito. Com a palavra Alaya podemos nos lembrar de Himalaya. Hima significa neve, então Himalaya, é onde se deposita ou guarda a neve. A palavra Alaya quer dizer depósito. É onde todas as experiências e nascimentos estão depositados, como uma semente que amadurece com o tempo, que cria outra semente e a deposita quando encontra condições favoráveis, como solo, água, terra e adubos. Então, esta semente brota. As sementes boas dão frutos bons. Nesta teoria da Alaya Vijnana, a pessoa está vendo aquilo que ela criou como substância e objeto e está depositando o carma: atos bons e ruins, como semente.
O treinamento do budismo é transformar todas as sementes ruins em sementes boas. Precisa trabalhar cem, mil, milhares de vezes, e se conseguimos transformar esta consciência de Alaya em sementes boas, então a sua existência, espiritual e física, se torna totalmente boa. Não somente o corpo e a mente se tornam bons como Alaya cria todos os fenômenos do mundo e assim todo mundo se torna bom. Nós nos tornamos Budas e vemos aquele mundo que é de Buda. Os mundos inferiores, como o inferno, animais e demônios famintos, e os estados inferiores de consciência desaparecem. É muito importante realmente ver as coisas deste mundo, o corpo e a natureza, a partir da consciência do Alaya.
O Alaya cria todas as consciências (as sete consciências), cria os corpos e o meio ambiente. Tudo é criado por Alaya. A característica desta consciência de Alaya é que, primeiramente, ele guarda todas as ações do Karma. Passado e todas as experiências passadas estão guardadas como uma semente. Esta semente, ao mesmo tempo em que ela é o resultado do carma é também a possibilidade de se criar uma ação nova. Mas o carma não é destino.
Texto de Ryotan Tokuda Igarashi, extraído do livro “Psicologia Budista”
[2] Caixa com um repertório variado de música que o usuário programa para tocar uma música mediante a colocação de uma moeda.
[3] Existem práticas budistas como o método de transformação. Podemos mudar o destino com a nossa prática porque tudo está depositado e registrado dentro do Alaya e, deste modo, o que está depositado — o mundo da pessoa — começa a mudar e a personalidade também. É como o perfume: o conhecimento, a cultura e a experiência têm o perfume de cada personalidade, depende do que a pessoa está guardando em sua consciência. Essa consciência e a percepção do mundo externo iniciam uma nova experiência e essa nova experiência imediatamente se deposita na subconsciência do Alaya. Esta semente depositada se transforma em outra semente e esta cria outra experiência condicionada pelas vivências passadas. Assim, a pessoa não pode ver o mundo além do seu limite. Por isso o treinamento consiste em aprender as coisas, os ensinamentos e as sabedorias para poder sair desse círculo.
Texto de Ryotan Tokuda Igarashi, extraído do livro “Psicologia Budista”
Extraordinários os comentários e os ensinamentos. Cada vez fico mais estupefacto com o !Google”, pelo seu imenso poder de comunicação, e nem penso mais em comprar livros; tudo que preciso ver e aprender está ao alcance de um toque de mão.
Mas poucas pessoas têm o exato conhecimento do que seja consciente e inconsciente, e a importância disto no nosso dia a dia. Vou aprofundar-me mais na matéria para poder dar uma resposta mais concisa e objetiva.