Diga-me, perguntou Yen Hui, “O que entende por jejum do coração?”
Respondeu-lhe Confúcio: O objetivo do jejum é a unidade interior. Isto significa ouvir, mas não com os ouvidos; ouvir, mas com o entendimento; ouvir com o espírito, com todo o seu ser. Ouvir apenas com seus ouvidos é uma coisa, ouvir com o entendimento é outra. Mas ouvir com o espírito não se limita a qualquer faculdade, aos ouvidos ou à mente. Daí exigir o esvaziamento de todas as faculdades. E quando as faculdades ficam vazias, então todo o ser escuta. Há uma posse direta do que está ali, diante de você, que nunca poderá ser ouvido com os ouvidos, nem compreendido com a mente. O jejum do coração esvazia as faculdades, liberta-as dos liames e das preocupações. O jejum do coração é a origem da unidade e da liberdade. “Já percebi”, disse Yen Hui, “O que me impedia de perceber era a minha própria auto-preocupação. Se eu começar este jejum do coração, a auto-preocupação desaparecerá. Então ficarei livre das limitações e das preocupações! Não é isso que o senhor que dizer?”
“Sim”, disse Confúcio, “é isso mesmo! Se conseguir tal objetivo, você será capaz de ir ao mundo dos homens sem os perturbar. Não entrará em conflito com a imagem que eles fazem de si mesmos. Se eles o estiverem escutando, cante-lhes uma canção. Se não, fique em silêncio. Não tente arrombar-lhes a porta. Não tente novos medicamentos neles. Apenas coloque-se entre eles, porque nada há a fazer senão ser um dentre eles. Aí, então, você poderá obter sucesso!
É fácil permanecer quieto sem deixar vestígios; o difícil é caminhar sem tocar o chão.
Se seguir os métodos humanos, você poderá enfrentar a decepção. No caminho do Tao nenhuma decepção é possível.
Você sabe que podemos voar com asas; ainda não aprendeu a voar sem elas. Já se familiarizou com a sabedoria dos que sabem, mas ainda não se familiarizou com a sabedoria dos que não sabem.
Olhe esta janela; nada mais é do que uma abertura na parede, mas, por causa dela, todo o quarto se enche de luz.
Assim, quando as faculdades se esvaziam, o coração está cheio de luz. Cheio de luz, ele torna-se uma influência por intermédio da qual os seres são secretamente transformados.
“A Via de Chuang-Tzu” – Thomas Merton