Especificamente sobre a prática de zazen, ensinou Koun Ejo:
“O zazen permite a pessoa clarificar a base de sua mente e residir confortavelmente na natureza original. Isso é chamado revelar a natureza e a paisagem original. Zazen é entrar diretamente no Oceano-da-Natureza-de-Buda e manifestar o corpo de Buda. A mente inerentemente pura e clara torna-se presente; a luz original penetra em todas as direções. Isso nada mais é do que o “Samadi da Natureza de Buda” (Jijuyu-zanmai) de todos os Budas. Se praticar isso, mesmo que por um curto intervalo, sua base mental será diretamente clarificada. Essa é a verdadeira porta do caminho do Buda. Zazen é como voltar para casa e sentar em paz. Quando objetos ilusórios desaparecem, a mente ilusória também desaparece. Quando essa mente desaparece, a realidade imutável manifesta-se e estamos sempre claramente conscientes. Isso não é extinção, isso tampouco é atividade”.
Mestre Dogen no Fukanzazengi, descreve a prática de meditação zen, o zazen; desse texto retiramos pequenos trechos:
“Sente de forma estável em samadi. Pense sem pensar. Como se pensa sem pensar? Pensando além de pensar e não-pensar… O zazen a que me refiro não é aprender meditação passo a passo, é simplesmente a porta de entrada do Dharma em direção à paz e contentamento (nirvana). É a prática de iluminação do caminho mais elevado. Praticando assim você é como um dragão na água, como um tigre na montanha. Você deve saber que o verdadeiro Dharma manifesta-se por si mesmo em zazen e que, antes de tudo, o embotamento e a distração são eliminados. Não avalie se você é inteligente ou estúpido, se é superior ou inferior, quando estiver praticando de todo o coração, esta é a verdadeira prática do Caminho. A prática-iluminação não se degrada. Fazer o esforço para praticar, isto mesmo já é a manifestação do caminho em sua vida diária. Os Budas e patriarcas, tanto neste como em outros mundos, preservaram o selo de Buda dessa mesma maneira e expressaram livremente o caminho. Ainda que a seu modo, apenas sentaram e foram protegidos pelo zazen. Se você praticar a talidade1 continuamente, você se tornará a talidade; a casa do tesouro se abrirá por si mesma e você será capaz de usá-lo como lhe for conveniente”.
Sobre a prática e experiência de Koun Ejo Zenji uma breve compilação do “Samadi do Tesouro da Luz Radiante”:
“Tenho um conselho aos que sinceramente aspiram praticar. Não se deixem levar por um particular estado mental ou por um objeto. Não repousem no intelecto ou na sabedoria. Não levem em suas mãos aquilo que ouviram na sala de palestras. Coloquem seu corpo e mente firmes no Grande Komyozo2 (Dharmakaya) e nunca olhem para trás. Nem busquem a iluminação nem afastem a ilusão. Nem rejeitem o fluxo mental e nem se apeguem a pensamentos identificando-se com eles. Apenas sentem de forma calma e estável. Mesmo que oitenta e quatro mil pensamentos equivocados surjam, todos e cada um podem se tornar a Luz de prajna (sabedoria não-dual) se não for colocada atenção neles e simplesmente deixar que se vão. Não apenas ao sentar, mas cada passo que der é um movimento da Luz. Passo a passo, sem discriminação.
“Mesmo em meio às mudanças, a Luz não é afetada. Florestas, grama, flores e folhas, seres humanos ou animais, grande ou pequeno, longo ou curto, quadrado ou redondo, todos se manifestam simultaneamente, independentemente de pensamentos discriminantes ou mudanças. A Luz ilumina por si mesma, independe do poder da mente. Desde o início a Luz não repousa. Mesmo quando os Budas aparecem neste universo, a Luz não aparece, quando os Budas entram em nirvana, a Luz não entra em nirvana. Quando você nasce a Luz não nasce, quando você morre a Luz não morre. Ela não aumenta com os Budas e não decresce com os seres sensoriais. Nem é confundida quando você é, e nem é iluminada se você for. Não tem posição, aparência, nome. É a essência de todos os fenômenos. Você não pode concebê-la, não pode rejeitá-la. É inatingível. Desde o céu mais elevado até o inferno mais degradado, todos os lugares são perfeitamente iluminados dessa forma. É a Luz divina, inconcebível, espiritual. Se você abrir-se e compreender o sentido profundo dessas palavras, você não precisará perguntar a mais ninguém sobre o que é verdadeiro ou falso. Desde o início esse samadi é o dojo (local de prática de zazen), que é o oceano da condição de Buda. Isto é zazen, é o sentar do Buda, a prática do Buda, fielmente transmitida. Nunca sente como os habitantes dos infernos, ou como demônios famintos, animais, seres humanos, semi-deuses, deuses, sravakas ou pratyekabuddhas3 Não desperdice seu tempo. Esse é o Dharmakaya, a liberação inconcebível”.
1. Compreensão não-condicionada, natural, sem apego ou rejeição, sem dualidade, compreensão (naturalmente liberta) da forma como a inseparabilidade do vazio, da luminosidade e da manifestação.
2. O Grande Komyozo, o Tesouro da Luz Radiante é o Corpo-Darma do Tatagata (Dharmakaya). É a mente verdadeira, a Natureza-de-Buda, assim chamada porque ali reside a Luz da sabedoria que rompe a escuridão da ignorância e ilumina a realidade.
3. Os Sravakas e Pratyekabuddhas praticam mantendo a visão separatista de um eu, movidos por motivação egóica.
Extrato do: O CAMINHO DIRETO
de Lama Padma Samten