A Mente Absoluta também é chamada no Lankavatara Sutra de “Dharma da Solidão” (Vivikta-dhama (Dharma do Desprendimento, Isolamento), porque existe por si só. Também significa o ser do Dharma absolutamente quiescente, tranqüilo.
Não há nenhuma “discriminação” neste Dharma da Solidão o que significa que a discriminação pertence a este lado da existência onde as multiplicidades acontecem e a causalidade impera. Realmente, sem esta discriminação nenhum mundo é possível.
A discriminação nasce da “energia-de-hábito” ou “memória” que permanece preservada de forma latente no “Alayavijnana” ou “consciência-que-a-tudo-conserva”. Esta consciência só não tem nenhum poder para agir por si. É completamente passiva, e permanece inativa até que um agente particular a toque. O aparecimento deste agente é um grande mistério que não será resolvido pelo intelecto; é algo a ser aceito simplesmente como tal. É despertada “subitamente”, de acordo com Asvaghosha.
Entender o que esta subitaneidade significa é a função da “nobre sabedoria” (Aryajnana). Mas como matéria de experiência, o despertar súbito da discriminação não tem nenhum significado oculto. O fato simplesmente é que ela é despertada, e nada mais; não é uma expressão que aponta para qualquer outra coisa.
Quanto a Alayavijnana ou “consciência-que-a-tudo-conserva” é considerada um armazém, ou depósito de consciências (alaya=depósito, vijnana=consciência). Ordinariamente, todo o nosso aparato cognitivo é feito para trabalhar exteriormente em um mundo de relatividade, e por isto nos tornamos tão profundamente envolvidos que não percebemos a liberdade que todos nós possuímos intrinsecamente, e como resultado ficamos irritados por todos os lados. Transformar tudo isso, o que pode ser chamado psicologicamente uma “conversão” ou “revolução”, tem que acontecer em nossa consciência mais interna. Isto, porém, não é um mero fato psicológico empírico a ser explicado em termos de consciência. Acontece nos mais profundos recessos de nosso ser. O termo sânscrito original é paravrittasraya.
Extrato da Introdução ao Lankavatara Sutra – Por D.T. Suzuki