Referências
Kapleau
Eduardo Basto
Transmissão de Ju-ching
Transmissão para Ejô
Livros
Textos
O Qüinquagésimo primeiro Patriarca.
Eihei Dogen zenji; Dogen Kigen, Bussho-dento kokushi, Joyo daishi (1200-1253) Fundador da Linhagem japonesa Soto Zen. Fundador do monastério de Eihei-ji. Autor do Shobogenzo e Eihei Shingi. Originalmente recebeu ordenação como um monge Tendai em Heiei-san à idade de 13 anos. Lá ele estudou shi-kan, goma, Mikkyo. Depois de estudar brevemente com o sincrético Mestre Tendai/Zen Yosai (Eisai), após a morte deste ele estudou com e se tornou o Herdeiro de Dharma de Myozen, o sucessor de Yosai. Em 1223 Myozen e Dogen viajaram para a China. Myozen morreu lá. Dogen estudou com Rujing e recebeu Transmissão na Linhagem de Caodong em Tiantong-shan. Ele voltou ao Japão em 1227 e ficou durante um tempo em Kennin-ji, o templo de Myozen, e depois em Kannon-dori-in onde estabeleceu o primeiro Sodo Zen no Japão, Kosho-Horin-ji. Depois de várias ameaças e ataques de monges Tendai e Shingon seguidores de seus Ensinamento Rahai Tokuzui sobre liberdade de todo gênero de preconceitos e vários outros incidentes tristes ele se mudou para província de Echizen. Lá ele e seus monges ficaram com monges Tendai da escola Hakusan enquanto um monastério novo, Daibutsu-ji (logo renomeado Eihei-ji) estava sendo construído. A Transmissão radical de Dogen da prática saijo (fácil e perfeita) e seus Ensinamentos catalogados são a base de todos os Ensinamentos Soto. Os Ensinos de Anzan sensei estão intimamente interligados ponto a ponto com os de Dogen.
Nascido de família aristocrática, Dôgen ainda criança já evidenciava sua inteligência brilhante. Conta que, com quatro anos, lia poesia chinesa, e com nove anos leu uma tradução chinesa do Tratado sobre o Abhidharma. O sofrimento que experimentou com a morte de seus pais — na de seu pai ele tinha apenas três anos e na de sua mãe, oito anos — sem dúvida alguma imprimiu em sua mente sensível a consciência da transitoriedade da vida e o motivou a fazer-se monge. Iniciado ao monaquismo budista com tenra idade, começou seu noviciado no Monte Hiei, o centro do buddhismo escolástico no Japão medieval, e estudou, nos anos que se seguiram, as doutrinas Tendai do buddhismo. Com mais ou menos quinze anos atormentava-o uma pergunta que se tornou o centro em torno do qual girou toda a sua luta espiritual: “Se, como dizem as outras, nossa natureza essencial é bodhi (perfeição), por que será que todos os buddhas têm de lutar para atingir a iluminação e a perfeição?
Sua insatisfação pelas respostas que lhe foram dadas no Monte Hiei levou-o finalmente a Eisai Zenji, que havia trazido os ensinamentos da escola Rinzai do Zen-buddhismo da China para o Japão.
A resposta de Eisai à questão de Dôgen foi: “Nenhum Buddha é consciente de sua existência (isto é, da sua natureza essencial), enquanto os que estão animalizados, grosseiramente iludidos, têm consciência disso”. Em outras palavras, os buddhas, precisamente porque são buddhas, não mais pensam em ter ou não uma natureza perfeita; somente os que vivem iludidos pensam nestes termos. Com estas palavras, Dôgen obteve uma realização interior que dissolveu aquela profunda dúvida. Há todos os indícios de que esta mudança aconteceu durante uma entrevista formal (jap. dokusan) entre Eisai e Dôgen. Ê preciso ter em mente que este problema preocupou Dôgen sem descanso, por algum tempo, e lhe bastaram as palavras de Eisai para levar sua mente a um estado de iluminação.
Desde então, Dôgen iniciou o que passaria a ser uma curta aprendizagem de disciplina sob Eisai, que faleceu naquele ano, e teve como sucessor seu com Myôsen resolveu um considerável número de kôans e finalmente recebeu o inka (transmissão). Apesar de toda esta habilidade, Dôgen ainda se sentiu espiritualmente irrealizado e esta inquietação levou-o a empreender a viagem à China, então muito perigosa, em busca da completa pacificação da mente. Permaneceu em todos os mosteiros reconhecidos, praticando, sob muitos mestres, mas não se satisfazia na sua busca de total libertação. Finalmente, no famoso Mosteiro de T’ien-t’ung, que acabava de ganhar um novo mestre, ele conseguiu a plena iluminação, isto é, a libertação do corpo e da mente através das palavras pronunciadas por seu mestre Nyojo: “Você deve adormecer o corpo e a mente”.
Diz-se que estas palavras foram proferidas por Nyôjô no início de um período formal do zazen, de manhã cedo, quando fazia sua ronda de inspeção. Descobrindo um monge adormecido, Nyôjô repreendeu-o por sua tibieza. Então, dirigindo a palavra a todos os monges, continuou: “Vocês precisam exercitar-se com todas as forças, mesmo com o risco de suas vidas. Para atingir a iluminação perfeita é preciso que adormeçam isto é, se libertem de todas as concepções do corpo e da mente”. Quando Dôgen ouviu esta última frase os olhos de sua mente repentinamente se abriram numa torrente de luz e de compreensão.
Mais tarde Dôgen foi ao quarto de Nyôjô, acendeu uma vareta de incenso (gesto cerimonial reservado em geral para ocasiões especiais), e prostrou-se diante de seu mestre na forma habitual.
“Por que está você acendendo uma vareta de incenso?” perguntou Nyôjô. Seria desnecessário dizer que Nyôjô, um mestre de primeira classe, que havia recebido Dôgen muitas vezes em dokusan e conhecia por isto seu estado mental, percebeu imediatamente, pelo andar de Dôgen, suas prostrações e seu olhar cheio de compreensão, que havia tido uma grande iluminação. Mas Nyôjô, sem dúvida alguma, queria ver a resposta que esta pergunta, aparentemente tao inocente provocada, para avaliar a extensão do satori (iluminação) de Dôgen.
“Experimentei como se adormece o corpo e a mente”, disse Dôgen.
Nyôjô exclamou: “Você adormeceu o corpo e a mente, em verdade o corpo e a mente adormeceram”.
Mas Dôgen protestou: “Não me dê sua sanção tão prontamente!”
“Não estou sancionando prontamente”.
Dôgen continuou: “Mostre-me que não está sancionando prontamente” e Nyôjô repetiu: “Isto é corpo e mente adormecidos”, demonstrado.
Então Dôgen prostrou-se novamente diante de seu mestre com um gesto de respeito e gratidão.
“Isto é o adormecimento adormecido”, disse Nyôjô.
Dôgen, que pertencia a uma família da alta aristocracia,] perdeu seu pai aos dois ou três anos, e sua mãe morreu quando tinha sete ou oito anos. Parece que ela, em seu leito de morte, o chamou, pedindo-lhe que seguisse a vida monástica buddhista, rezasse por seus pais e se dedicasse à salvação de todos os seres. O fato da perda, em criança, de seus pais, parece ter marcado a sua vida, segundo alguns biógrafos, como, aliás, confessaria posteriormente.
[Em 1213], torna-se discípulo de Kôen, abade do Tendai, cortando o cabelo e recebendo a ordenação de monge buddhista. […] No monastério do monte Hiei, dedicava-se então firmemente à vida religiosa e ao estudo das escrituras sagradas do buddhismo. Todavia, especialmente uma questão o preocupava crucialmente: “as doutrinas esotéricas e exotéricas ensinam que todos os seres sensíveis têm primordialmente a natureza búddhica; se é assim, por que todos os buddhas e bodhisattvas demoram para obter a iluminação, e dedicam-se às práticas ascéticas?” Em busca de solução para este problema, Dôgen deixa o monte Hiei em 1214. Procura o monge Koin, que residia no templo de Mii-dera, também da escola Tendai, […] [que teria respondido assim à pergunta de Dôgen:] “Não se pode responder facilmente a este problema. Eu conheço um aspecto teórico ortodoxo desta questão, mas não atingi o fundo do problema. É melhor que vás ter com Eisai no Kennin-ji.”
Dôgen é considerado como o fundador do Zen japonês, estabelecendo-o como um ramo distinto das demais escolas buddhistas no Japão. […] É incerto que Dôgen mantivesse algum contato direto com Eisai, mesmo porque, no outono de 1214, este residiu em Kamakura e, logo depois, faleceu. Não há narrativas neste sentido. Seja como for, a figura de Eisai marcou a concepção monástica de Dôgen. […] Entrando no templo Kennin-ji, Dôgen colocou-se sob a orientação de Myôzen que, na ocasião, tinha 34 anos. Após a morte de Eisai, Myôzen sucedeu-o como novo superior do templo.
51. De Ju-ching para
Dôgen
Dôgen nasceu em uma família aristocrática do Japão. Perdeu os pais ainda muito cedo e passou a ser educado por seus familiares. Aos 13 anos de idade, tornou-se monge e passou a praticar no monte Hiei, o centro da escola japonesa Tendai. Aos 15 anos, passou a praticar na linhagem Zen Rinzai, que tinha sido introduzida no Japão pelo mestre Eisai. Dôgen recebeu o inka-shômei — a confirmação do despertar — do mestre Myôzen, que foi o sucessor de Eisai. Aos 24 anos, ainda insatisfeito, Dôgen viajou à China e encontrou o mestre Ju-ching, que disse aos monges:
Por que vocês ainda estão habitando a mente e o corpo? Vocês ainda estão dormindo acordados! Nada de incenso, nada de sutras, nada de arrependimento, nada de mantras! Não fixem a mente e o corpo em concentração. Para explorar verdadeiramente o Zen, abandonem a mente e o corpo!
As palavras do mestre Ju-ching realmente despertaram Dôgen. Então, ele foi até os aposentos do mestre para lhe oferecer incenso:
Dôgen: Abandonei a mente e o corpo.
Ju-ching: Até mesmo a mente e o corpo que você abandonou foram abandonados.
Dôgen [curvando-se]: Esta é uma percepção temporária. Não tire conclusões precipitadas.
Ju-ching: Não estou tirando conclusões precipitadas.
Dôgen: Mostre-me que não.
Ju-ching: Isto é abandonar a mente e o corpo.
[Dôgen curva-se novamente.]
Ju-ching: Você abandonou o abandono.
Dôgen retornou ao Japão, e lá iniciou a linhagem Sôtô Zenshû.
52. De Dôgen para
Ejô
O monge Ejô, aluno de Dôgen, já tinha
compreendido o verdadeiro significado da vacuidade. Ao ouvir o seu mestre dizer um antigo kôan, “um fio de cabelo atravessa simultaneamente vários orifícios”, ele exclamou:
Ejô: Estes orifícios nada mais são do que o próprio fio de cabelo!
Dôgen:
Completamente atravessado.
Neste ponto, terminam as 52 transmissões da luz, que foram relatadas pelo mestre Keizan Zenji no livro Denkôroku. Até os dias de hoje, esta linhagem continua a transmitir a luz, que já passou pela Índia, pela China, pelo Japão e, mais recentemente, chegou também ao Ocidente.
Que esta lua cheia de outono possa brilhar e se refletir eternamente no grande oceano, para que todos possam compreender a natureza de Buddha, receber a transmissão do Dharma precioso, e viver na profunda harmonia da imensa Sangha!
- Extraído de “Ensinos do Mestre Zen Anzan Roshi”(texto compilado pelo Ven. Jinmyo Fleming ino e traduzido ao Português por Claudio Miklos.
- Extraído de “Os três pilares do Zen” de Philip Kapleau
- Extraído de DharmaNet
- Extraído de www.dharmanet.com.br
Livros
Dogen Zenji escreveu 120 livros em sua vida:
Shobogenzo — 95 volumes;
Eihei-Koroku — 10 volumes;
Eihei-Genzenji-Shingi — 2 volumes;
Gakudo-Yojinshu — 1 volume;
Shobogenzo-Sanbya Kusoku — 3 volumes;
Hokyoki — 1 volume;
Shobogenzo Zuimonki — 6 volumes.
Introdução | Prefácio | Capítulo 1 | Capítulo 2 |
Capítulo 3 | Capítulo 4 | Capítulo 5 | Capítulo 6 |
Textos
Daishûgyôi – A Grande Prática do Caminho
Genjokoan – O Caminho da Vida Cotidiana
Trechos do Sutra da Compreensão Completa
Gyôji – Prática Incessante
Sobre o Empenho do Caminho
Uma história da prática Budista
O Zazen de uma única pessoa
UJI
Fukan-Zazengi
Nascimento e morte