Com isso em mente, vamos dar uma olhada em algumas das formas nas quais você pode praticar em sua vida cotidiana e até usar o que normalmente podem parecer distrações como suportes para repousar a mente. Os textos antigos chamam a isso de “tomar sua vida como o caminho”.
O simples ato de andar na rua pode ser uma grande oportunidade de desenvolver a vigilância. Com que freqüência você vai a algum lugar, como dirigir ao supermercado ou caminhar para um restaurante na hora do almoço, e se encon¬tra no destino sem ao menos perceber como chegou lá? Esse é um exemplo clássico de permitir que o ‘macaco louco’ [sua mente condicionada] atue sem controle, lançando todo tipo de distrações que não apenas impedem que você vivencie a plenitude do momento presente, mas também lhe roubam a chance de focar e treinar sua consciência. A oportunidade aqui é decidir conscientemente conduzir sua atenção ao que o cerca. Olhe para os prédios pelos quais você passa, para as outras pessoas na calçada, para o trânsito nas ruas, para as árvores que estão plantadas no caminho. Quando você presta atenção ao que vê, o ‘macaco louco’ se acalma. Sua mente fica menos agitada e você começa a desenvolver um senso de calma.
Você também pode voltar a atenção à sensação física de caminhar, ao mo¬vimento de suas pernas, ao toque de seus pés no chão, ao ritmo de sua respira¬ção ou de seu coração. Isso funciona mesmo quando você estiver com pressa e, na verdade, é um excelente método de combater a ansiedade que normalmen¬te nos envolve quando tentamos chegar logo a algum lugar. Você ainda pode andar rapidamente enquanto volta sua atenção às próprias sensações físicas ou às pessoas, locais ou objetos pelos quais passa pelo caminho. Permita-se pensar: “Agora estou andando na rua… Agora estou vendo um prédio… Agora estou vendo uma pessoa usando camiseta e jeans… Agora meu pé esquerdo está to¬cando o chão… Agora meu pé direito está tocando o chão…”.
Quando você conduz a atenção consciente à sua atividade, as distrações e as ansiedades aos poucos se dissipam e sua mente se tranqüiliza e relaxa. E, ao chegar a seu destino, você estará em uma posição muito mais confortável e aberta para lidar com o próximo estágio de sua jornada.
Você pode fazer o mesmo ao dirigir ou executar tarefas cotidianas em casa ou no trabalho, voltando sua atenção aos vários objetos em seu campo visual ou usando os sons como suportes. Até tarefas simples como cozinhar e comer pro¬porcionam oportunidades para a prática. Ao cortar legumes, por exemplo, você pode voltar sua atenção à forma ou à cor de cada pedaço que estiver cortando ou aos sons da sopa ou do molho borbulhando no fogão. Ao comer, volte sua atenção aos cheiros e sabores que experimenta. Ou você pode praticar a medi¬tação sem objeto em qualquer uma dessas situações, permitindo que sua men¬te repouse simples e abertamente enquanto conduz qualquer atividade, sem apego ou aversão.
Você pode até meditar enquanto dorme ou sonha. Enquanto pega no sono, você pode repousar a mente na meditação sem objeto ou gentilmente repousar a atenção na sensação de sonolência. Você também pode criar uma oportunidade de transformar seu sonho em experiências de meditação ao recitar silenciosamente para si mesmo várias vezes enquanto pega no sono:
“Reconhecerei meus sonhos… Reconhecerei meus sonhos… Reconhecerei meus sonhos”.
A ALEGRIA DE VIVER de Yongey Mingyur Rinpoche