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Quase todas as religiões tratam de imagens e de como as “sustentamos”. “Não terás outros deuses além de mim”, comentou Yasutani Roshi, dirigindo-se a seus discípulos: “Não se fixem na imagem colocada no altar, procurem conhecer a imagem que cada um traz na mente.”
A minha raiva surge sempre que minha auto-imagem está ameaçada. Assim: qual é a imagem que você tem de si mesmo? “Sou uma pessoa generosa”. “Sou um bom pai (ou mãe)”. “Sou bem sucedido”. “Sou uma autoridade em (ciência, plantas, culinária, dieta, cães…o que seja)”.
Pode também ser o oposto. “Sou mau”. “Sou um pai medíocre”. “Sou um fracassado,” e assim por diante. As imagens que temos de nós mesmos são profundamente enraizadas; elas movem nossas vidas e nos apegamos a elas.
Algumas terapias tentam substituir uma imagem negativa por outra positiva, e pode ser eficaz até certo ponto. O apego a qualquer imagem, positiva ou negativa – o intuito de defender nossa imagem/ídolo – conduz a uma espécie de escravidão; o ídolo passa a reger nossa existência e somos indefesos sob seu domínio.
Todos os relacionamentos insatisfatórios, e os constantes argumentos que eles geram, partem da necessidade de defendermos nossas imagens/ídolos. Quando sob o efeito de uma tormenta emocional, questione-se, “Qual é a imagem faço de mim mesmo e o que creio precisar defender?”
Tenha em mente a diferença entre “É preciso que eu seja um bom professor (ou estudante, atleta, músico, terapeuta, ou…)” e apenas ser um bom professor. Ao defender uma imagem perdemos a consciência da sua origem. E a imagem “Sou lúcido, realizado, iluminado” é um obstáculo para uma visão autêntica de mim mesmo porque ser “iluminado” é sobretudo ser destituído de qualquer imagem pré-concebida; é ser aberto à vida como ela se manifesta. É ser, capaz de condoer-se com as imagens de quem as defende desesperadamente . É compaixão, claro.
Como devemos então praticar?
(1) Tomando conhecimento das minhas imagens preferidas: a tensão corporal me indicará sempre o momento em que a imagem surge.
(2) Estando consciente das essências destas imagens, dos pensamentos e sensações corpóreos que as acompanham.
(3) Experimentar a sensação física tal como é, isolada da imagem, sem qualquer pensamento associado a ela.
Parece fácil, mas não é. Persista, este é o caminho. Seja paciente. Com o tempo nossas imagens enfraquecem e nossa liberdade cresce.
[Novembro 1991]
Palestra do Darma
Tradução para o português de
Maria Heleosina Ribeiro Pessôa
A maioria das religiões falam sobre imagens e como nós as mantemos; em nossas vidas. "Não terás outros deuses além de mim…" . Yasutani Roshi, falando a seus alunos, dise: "Vocês não precisam ficar preocupados com as imagens externas, mas sim com as imagens formadas em suas mentes".
Minha raiva autocentrada surge quando minha imagem de mim mesma está ameaçada. Assim: que imagem você tem de você mesmo? "Eu sou uma pessoa generosa". "Eu sou um bom pai (ou mãe)". "Eu faço coisas que têm valor". "Eu sou uma autoridade em (ciência, plantas, culinária, dieta, cães…o que seja)".
Ou minha imagem pode ser o oposto. "Sou uma pessoa média". "Sou um pai medíocre". "Nunca realizo nada". E assim por diante. Nossas imagens estão enraizadas profundamente. Nós as amamos. Elas fazem nossas vidas funcionarem. Elas são o que nós pensamos que somos.
Algumas terapias psicológicas tentam substituir uma imagem negativa por uma positiva. Eficaz, mas só até certo ponto. Nosso apego a qualquer imagem, positiva ou negativa – desde que nós defendemos (protegemos) nosso ídolo – nos deixa seguir numa espécie de escravidão, o ídolo regula nossa existência e nós ficamos indefesos sob seu domínio.
Todos os relacionamentos pobres (e seus constantes argumentos) estão baseados na defesa de imagens. Quando for pego em uma tormenta emocional, pergunte a si mesmo, "Que imagem faço de mim mesmo que eu preciso defender?"
Tenha em mente a diferença entre "Eu preciso se um bom professor (ou estudante, atleta, músico, terapeuta, ou…)" e ser um bom professor. Qualquer imagem defendida invariavelmente bloqueia a consciência aberta do que realmente a ação se origina. E a imagem "Eu sou uma pessoa que vê claramente, que é realizada, e que é iluminada" é em si mesma uma barreira ao verdadeiro ver. Ser "iluminado" é não ter imagem; é ser indefinido e aberto à vida como ela é. É ser, capaz de condoer-se das imagens dos outros que são defendidas desesperadamente . É, é claro, compaixão.
Qual é nossa prática com tudo isso?
- Eu preciso conhecer minhas imagens favoritas; e a chave mais verdadeira para minha tendência para erigir uma imagem é a tensão do corpo.
- Eu preciso estar consciente das essências destas imagens, ou seja, quais são meus pensamentos e sensações corpóreas que acompanham a imagem.
- Finalmente eu preciso experimentar a sensação física pura de minha imagem, eu preciso experimentar esta sensação livre de pensamentos com que me identifico.
Soa fácil, mas não é. Persista, este é o caminho. Seja paciente. No seu tempo nossas imagens enfraquecem e nossa liberdade cresce.
[Novembro 1991]
Dharma Talk
Retirado do site www.prairiezen.org
Most religions have something to say about images and how we hold them in our lives. ‘Thou shalt have no other Gods before me…’. Yasutani Roshi, speaking to a student, ‘You need not be concerned about the image on the alter; you should be concerned about the image in your mind.’
My self-centered anger arises when my image of myself is threatened. So: what image of yourself do you hold? ‘I am a kind person.’ ‘I am a good parent.’ ‘I accomplish worthwhile things.’ ‘I am an authority on (science, plants, cooking, diet, dogs … whatever).’
Or my image can be the opposite. ‘I am a mean person.’ ‘I am a mediocre parent.’ ‘I never accomplish anything.’ On and on. Our images are deeply rooted. We love them. They run our lives. They are who we think we are.
Some psychological therapies attempt to replace a negative image with a positive one. Effective but only to a point. Our attachment to any image, positive or negative–since we will defend our idol–leaves us in the long run in a state of slavery; the idol rules our existence and we are helpless under its domination.
All poor relationships (and their constant arguments) are based on the defense of images. When caught in an emotional storm, ask yourself, ‘What image do I have of myself that I feel I must defend?’
Keep in mind the difference between ‘I must be a good teacher (or student, athlete, musician, therapist, or …) and just being a good teacher. Any defended image invariably blocks the open awareness from which effective action springs. And the image ‘I am one who sees clearly, who has realization, who is enlightened’ is itself the barrier to true seeing. Being ‘enlightened’ is being without image; undefended and open to life as it is. It is being able to feel the pain of the desperately defended images of others. It is, of course, compassion.
What is our practice with all this?
(1) I need to know my favorite images; and the most reliable clue to my tendency to erect an image is bodily tension.
(2) I need to be aware of the mental and physical substance of these images, that is, what my thoughts and bodily sensations accompanying the image are.
(3) Finally I need to experience the pure physical sensation of my image; I need to experience this sensation free of thoughts with which I identify.
Sounds easy. It’s not. Still, the Way is just this.
Be patient. In time our images weaken and our freedom grows.
[November 1991]