Homenagem a Manjushjrikumarabhuta!
1.
Prostro-me ao Buda todo-poderoso,
Cuja mente é livre de apego,
Que, em sua compaixão e sabedoria,
Ensinou o inexprimível.
2.
Na verdade, não há nascimento –
Então, certamente não há cessação ou liberação;
O Buda é como o céu
E todos os seres têm essa Natureza.
3.
Nem o samsara nem o nirvana existem,
Mas tudo é um continuum complexo
Como a face intrínseca do vazio,
O objeto da consciência última.
4.
A natureza de todas as coisas
Aparece como um reflexo,
Pura e naturalmente brilhante,
Como a natureza não-dual, tal como é.
5.
A mente comum imagina um eu
Onde não há absolutamente coisa alguma,
E concebe estados emocionais –
Felicidade, sofrimento e equanimidade.
6.
Os seis estados dos seres no samsara,
A felicidade do céu,
O sofrimento do inferno,
São todas falsas criações, imaginações da mente.
7.
Do mesmo modo, as idéias de que a ação ruim
Causa o sofrimento, a velhice, a doença e a morte,
E que a virtude leva à felicidade,
São meras idéias, noções irreais.
8.
Como um artista amedrontado
Pelo demônio que ele mesmo pintou,
O sofredor do samsara
É assustado por sua própria imaginação.
9.
Como um homem preso na areia movediça,
Agitando-se e se debatendo,
Deste modo os seres afundam
Na confusão dos seus próprios pensamentos.
10.
Confundir a fantasia com a realidade
Causa uma experiência de sofrimento;
A mente é envenenada pela perturbação
Da consciência da forma.
11.
Dissolvendo a imaginação e a fantasia
Com uma mente de sabedoria compassiva,
Permaneça na consciência perfeita
Para ajudar a todos os seres.
12.
Assim adquirindo a virtude convencional,
Livre da teoria do pensamento interpretativo,
A compreensão insuperável é ganha
Com o Buda, o amigo do mundo.
13.
Conhecendo a relatividade de tudo,
A verdade última é vista sempre;
Descartando a idéia de começo, meio e fim,
O fluxo é visto como vacuidade.
14.
Então, tanto samsara como nirvana são vistos como são;
Vazios e insubstanciais,
Nus e imutáveis,
Eternamente brilhantes e iluminados.
15.
Como as imaginações de um sonho,
Que se dissolvem ao despertar,
Assim a confusão do samsara
Desaparece na iluminação.
16.
Idealizando coisas de nenhuma substância
Como se fossem eternas, concretas e satisfatórias,
Envolvendo-as em uma névoa de desejo,
Surge a roda da existência.
17.
A Natureza dos seres é não-nascida,
Mas geralmente os seres são considerados existentes;
Tanto os seres como as suas idéias
São crenças falsas.
18.
Nada mais é do que um artifício da mente
Este nascimento em um vir-a-ser ilusório,
Em um mundo de ação boa ou ruim.
Seguida por renascimento bom ou ruim.
19.
Quando a roda da mente pára de girar,
Todas as coisas chegam ao fim, assim,
Não há qualquer coisa inerentemente substancial
E todas as coisas são absolutamente puras.
20.
Este grande oceano do samsara,
Cheio de pensamentos deludidos,
Pode ser atravessado no barco Mahayana,
Quem poderá alcançar o outro lado sem ele?
O cólofon: Os Vinte Versos Mahayana (sânsc. Mahayabavimsaka) foram compostos pelo mestre Nagarjuna. Foram traduzidos para o tibetano pelo pandita de Kashmir, Ananda, e pelo monge tradutor Dragjor Sherab.