O “Cuco do Estado de Presença” (rig pa´i khu byug) é um dos textos Dzogchen que foi trazido para o Tibet em tempos antigos por Vairochana. O título do texto foi inventado por Vairochana como um epíteto para os Seis Versos Vajra, que pertencem à categoria dos escritos Dzogchen conhecidos como “lung” (lung). Lung, que são parte dos ensinamentos originalmente transmitidos por Garab Dorje, contêm os pontos essenciais de um ou mais tantras. Os Seis Versos Vajra, assim chamados porque eles explicam a condição primordial do indivíduo, resume a essência da base, caminho, e fruto do Dzogchen.
A estória conta que Vairochana, que era também um grande tradutor, foi enviado a Oddiyana pelo rei Trisong Detsen para receber ensinamentos Dzogchen, que até aquele momento não tinham sido introduzidos no Tibet. Padmasambhava já havia transmitido ensinamentos Dzogchen aos seus discípulos tibetanos, mas o que ele havia transmitido eram em sua maioria preceitos vinculados a métodos de transformação do Anuyoga.²
Em Oddiyana Vairochana encontrou o mestre Shri Singha, que lhe ensinou tanto sutras e ensinamentos esotéricos durante o dia, como Dzogchen durante a noite, por causa da proibição sobre os ensinamentos Dzogchen imposta pelo rei de Oddiyana. Vairochana também traduziu uma série de textos com a colaboração de Shri Singa, e diz-se que ele os escreveu com leite de cabra sobre algodão a fim de mantê-los secretos. Quando retornou a seu país ele começou a transmitir os ensinamentos Dzogchen ao rei e a uns poucos escolhidos. O texto dos Seis Versos Vadjra foi na verdade o primeiro texto que ele introduziu no Tibet, e assim ele deu o título, O Cuco do Estado de Presença, um Sinal de Boa sorte e Glória (bKra shis pa´i dpal rig pa´i khu byug).³
No Tibet o cuco é considerado como um sinal de boa sorte e prosperidade porque ele anuncia a chegada da primavera. Quando o povo tibetano ouve o canto do cuco sabe que o longo inverno frio está acabando, e a natureza está despertando novamente. Assim, o canto do cuco é comparado por Vairochana ao despertar da presença do estado primordial (rig pa) que se tornou possível com a introdução dos ensinamentos Dzogchen no Tibet.
Ao longo dos séculos os ensinamentos Dzogchen foram alvo algumas vezes de critica e difamação dirigidos por alguns eruditos tibetanos. Uma das maneiras que algumas pessoas tentaram provar que os textos Dzogchen não eram autênticos foi sugerindo que existiam erros da gramática sânscrita em títulos de muitos tantras Dzogchen. O que isto de fato mostra é que esses que denegriam os ensinamentos Dzogchen não conheciam a existência da língua de Oddiyana, a partir da qual os tantras foram traduzidos em tibetano por Vairochana e outros mestres. Mas os praticantes de Dzogchen nunca tiveram nenhum interesse em formar uma seita, ou em defender a si mesmos ou entrar em argumentação, porque a coisa principal no Dzogchen é o estado de conhecimento, que não tem a ver com o que é exterior. Hoje, entretanto, a autenticidade histórica dos textos Dzogchen pode ser provada, graças a certos textos redescobertos entre os manuscritos de Tun Huang que são considerados originais e autênticos por todos os eruditos4.
Um destes manuscritos redescobertos contem de fato O Cuco do Estado de Presença, que foi encontrado junto com um comentário sobre ele que foi provavelmente o trabalho do próprio Vairochana. Estes textos nos trazem alguns dos mais antidos ensinamentos Dzogchen, que refletem o espírito original da tradição oral, em particular da Série da Natureza da Mente.
Os Seis Versos Vajra não são palavras vazias. Através do entendimento de sua mensagem, uma linha ininterrupta de mestres, do tempo de Garab Dorje em diante, tem manifestado conhecer o estado primordial. Nas três partes de duas linhas cada que faz um total de seis linhas, podem ser encontrados os princípios da base, do caminho e do fruto, ao lado de uma explicação simultânea da maneira de ver, da maneira de praticar, e a maneira de agir de acordo com os ensinamentos Dzogchen. A base não é algo abstrato. È a nossa própria condição quando reconhecemos nosso estado. Isto também é verdade quanto à maneira de ver de um praticante Dzogchen, que é um ponto de vista inseparável do verdadeiro conhecimento em si mesmo. O caminho é o meio para desenvolver este conhecimento através de vários métodos de prática. E o fruto é a realização de unir o modo de agir de uma pessoa com o estado de presença de modo que a contemplação e as atividades diárias da pessoa estejam totalmente integradas. Através do entendimento dos Seis Versos Vajra podemos ter acesso direto à essência do Dzogchen.
A Base não é alguma coisa abstrata. É nossa própria condição quando reconhecemos nosso estado. Isso é igualmente verdadeiro na maneira de ver de um praticante Dzogchen, que é um ponto de vista inseparável do verdadeiro conhecimento.
A Via é o meio de desenvolver este conhecimento através de diferentes métodos e práticas. E o fruto é a realização da união de nossa maneira de nos comportar e o estado de presença, de modo que nossa contemplação e nossas atividades quotidianas estejam totalmente integradas. Por uma compreensão dos Seis Versos Vajras podemos obter um acesso direto a essência do Dzogchen.