“Jesus e Buda, Irmãos“
de Thich Nhat Hanh
No budismo aprendemos que a compreensão é a verdadeira base do amor. Sem compreensão, independentemente de quanto você se esforce, não poderá amar Se disser: "Tenho que tentar amá-lo", estará cometendo uma tolice. É preciso compreendê-lo e, ao fazer isso, irá amá-lo. Uma das coisas que aprendi dos ensinamentos de Buda é que sem a compreensão o amor não é possível. Se o marido e a esposa não se compreendem, não podem se amar. Se um pai e um filho não se compreendem, causarão sofrimento um ao outro. Então a compreensão é a chave que abre a porta do amor.
Compreensão é o processo de observar atentamente. Meditar significa observar atentamente as coisas, tocá-las com extrema atenção. Uma onda precisa entender que existem outras ondas à sua volta. Cada uma tem o seu próprio sofrimento. Você não é a única pessoa que sofre. Suas irmãs e seus irmãos também sofrem. No momento em que você for capaz de ver o sofrimento deles, irá parar de censurá-los e também parar com o seu próprio sofrimento. Se você está sofrendo e acredita que isto é criado pelas pessoas ao seu redor, é conveniente olhar outra vez. A maior parte do seu sofrimento vem da falta de compreensão de si mesmo e dos outros.
No budismo, não creio que a compaixão e a bondade amorosa sejam praticadas visando à salvação individual. A verdade ensinada pelo Buda é que o sofrimento existe. Com a atenta observação do sofrimento em você mesmo e na outra pessoa, advirá o entendimento. Quando isso acontecer, o amor e a aceitação também surgirão, o que levará ao término do sofrimento.
Você talvez imagine que o seu sofrimento é maior do que o de qualquer outra pessoa ou que é o único a sofrer Não é verdade. Quando você reconhecer o sofrimento à sua volta, ajudará a si mesmo a sofrer menos. Saia de dentro de você e observe. A época do Natal é uma excelente oportunidade para isso, O sofrimento está em mim, é evidente, mas também está em você. Está no mundo.
Houve uma pessoa que nasceu há quase dois mil anos. Tinha consciência de que o sofrimento estava nela e na sua sociedade, e não se escondeu do sofrimento. Em vez disso, pôs-se a investigar atentamente a natureza do sofrimento, as suas causas. Como teve a coragem de se manifestar, tornou-se o mestre de muitas gerações. Talvez a melhor maneira de celebrar o Natal seja habituar-se a andar com atenção, a sentar com atenção e observar tudo atentamente para descobrir que o sofrimento ainda continua ali em todos nós e no mundo. Reconhecendo o sofrimento, aliviamos nossos corações daquilo que nos vem afligindo durante tantos dias e meses. Segundo os ensinamentos budistas, quando se presta bastante atenção ao sofrimento, compreende-se a sua natureza; então, o caminho para a felicidade se revelará.
No budismo, o nirvana é descrito como paz, estabilidade e liberdade. O processo é entender que paz, estabilidade e liberdade estão à nossa disposição aqui e agora, durante vinte e quatro horas por dia. Só precisamos saber como alcançá-las e termos a vontade, a determinação para consegui-lo. É como a água, sempre disponível para a onda. Nada mais é do que a onda tocando a água e compreendendo que ela está lá.