Thich Nhat Hanh
Mestre zen, por favor, explique-nos: “O que é o verdadeiro Buda? O que é o verdadeiro Darma? O que é a verdadeiro Caminho?” Esta pergunta refere-se ao Buda, ao Darma e ao Caminho. “O Caminho”, marga em sânscrito, é um ter¬mo muito importante nas tradições espirituais e culturais chinesas. Aqui, a palavra “Caminho” não designa apenas a senda, mas também a verdade absoluta. Logo, é também o Darma e o meio de se divisar a realidade absoluta.
O Mestre Lin-chi dissera que o verdadeiro Caminho não tem forma, o verdadeiro Darma não tem sinal e o verdadeiro Buda não tem aparência. Mas agora aí está o discípulo virando-se e perguntando: “O que é o verdadeiro Buda? O que é o verdadeiro Darma? O que é a verdadeiro Caminho?”
Mestre Lin-chi respondeu gentilmente. Ele poderia ter explicado a sua resposta de cem maneiras diferentes, mas disse o seguinte: “Verdadeiro Buda é nossa mente pura. Verdadeiro Darma é a luz do corpo. O verdadeiro Caminho é a não discriminação, é a pura luz sem restrição que res¬plandece em todas as direções. O Buda, o Darma e o Ca¬minho são uma única coisa. São denominações conven¬cionais que na realidade não têm existência individual”.
Falamos sobre as Três Jóias, mas na verdade elas são uma. Olhamos dentro do Buda e vemos o Darma e a Sanga. Se não houver o Darma e a Sanga, o Buda não é realmente o Buda. Quando olhamos dentro do Darma, vemos o Buda e a Sanga. Portanto, sem o Buda e a Sanga não pode haver Darma. Não podemos separá-los, mas eles têm nomes diferentes, denominações convencionais, prajnapti.
“Denominação convencional” é um termo que usamos temporariamente, por conveniência. A palavra “criança” é um substantivo que usamos, mas dizer “criança” não significa que não vejamos os antepassados e os descen¬dentes dessa criança. Quando dizemos “criança” deve¬mos ser capazes de entender o pai e a mãe; só então podemos entender realmente a criança. Usamos a palavra “criança” para não confundir-nos no momento.
Nós temos de manter simultânea consciência do Buda, do Darma e do Caminho. Para onde quer que olharmos, vemos o Buda, o Darma e o Caminho. Vemos que eles não são três coisas separadas.
No início deste ensinamento, Mestre Lin-chi fez três afirmações: “Verdadeiro Buda é nossa mente pura. Verda¬deiro Darma é a luz do corpo. O verdadeiro Caminho é a pura luz sem restrição que resplandece em todas as direções”. No caso daqueles cujo nível de prática é intenso, já amadurecido, a primeira afirmação já basta para acordá-los; eles conseguem compreender a verdade absoluta, e essa é a primeira afirmação, transmitida com franqueza. A linguagem já não precisa levar nenhum significado, nenhuma idéia, nenhum exemplo, nenhuma intenção.
Basta um grito, um golpe ou uma palavra para libertar a outra pessoa. Essa é a primeira afirmação; o fruto está maduro e só é preciso colhê-lo.
Mesmo que só entendamos depois da segunda afirmação, ainda podemos nos tornar professores de humanos e deuses. A segunda afirmação é um meio hábil, um símbolo, um exemplo para ajudar a abrir a compreensão da outra pessoa. O professor cria o meio hábil para ajudar a outra pessoa a perceber sua mente e libertar-se dela. Graças ao meio hábil, a outra pessoa pode despertar e compreender alguma coisa, mesmo que esse não seja o primeiro nível, o mais alto. Ainda assim, essa pessoa pode ser professor de outras. Mas se só compreendemos depois de chegar à terceira afirmação, não podemos sequer salvar-nos, muito menos aplicar os ensinamentos para ajudar outrem. Ainda não temos experiência bem sucedida com a prática. O Mestre Lin-chi ensinou: “O Patriarca Bodidarma veio da Índia com um único propósito: achar uma pessoa que não fosse iludida por outras”. O mestre não procurava o Buda, ele só veio e procurou uma pessoa. Talvez Bodidarma tenha vindo só em visita e sem nenhum propósito concreto. Costumamos dizer que Bodidarma veio com tais ou quais propósitos, mas estes são projeções nossas.
O Primeiro Patriarca, Bodidarma, estava sentado em meditação numa gruta quando o Monge Huike chegou. Huike ficou diante da gruta por dias, embora o frio fosse extremamente intenso ali fora. Finalmente, Bodidarma teve pena dele e perguntou: “Por que vieste? Por que estás aqui?” “Vim aqui pedir-te que acalmes minha mente”, respondeu o Monge Huike. “Onde está tua mente? Apresente-a. Eu a acalmarei para ti”, disse o mestre. “Não consigo achá-la. Não posso apresentá-la”, respondeu o monge. “Então eu acalmei tua mente!”, disse Bodidarma. Ao ouvir isto, Huike despertou-se e deu-se conta claramente de que todo o empenho que dedicara à sua prática tinha sido inútil. Uma afirmação bastou para que Huike despertasse.
Se ao ouvirmos esta afirmação soubermos jogar luz para refletir sobre nossa mente e já não estivermos buscando mais nada, entenderemos que nosso corpo e nossa mente não diferem do corpo e da mente do Buda e dos grandes mestres. Neste exato momento, nos tornamos pessoas sem objetivo. Isto é o que se chama alcançar o ensinamento ou não consecução. Significa que já temos o ensinamento que nosso professor está transmitindo.
O Mestre Lin-chi dissera que o verdadeiro Caminho não tem forma, o verdadeiro Darma não tem sinal e o verdadeiro Buda não tem aparência. Mas agora aí está o discípulo virando-se e perguntando: “O que é o verdadeiro Buda? O que é o verdadeiro Darma? O que é a verdadeiro Caminho?”
Mestre Lin-chi respondeu gentilmente. Ele poderia ter explicado a sua resposta de cem maneiras diferentes, mas disse o seguinte: “Verdadeiro Buda é nossa mente pura. Verdadeiro Darma é a luz do corpo. O verdadeiro Caminho é a não discriminação, é a pura luz sem restrição que res¬plandece em todas as direções. O Buda, o Darma e o Ca¬minho são uma única coisa. São denominações conven¬cionais que na realidade não têm existência individual”.
Falamos sobre as Três Jóias, mas na verdade elas são uma. Olhamos dentro do Buda e vemos o Darma e a Sanga. Se não houver o Darma e a Sanga, o Buda não é realmente o Buda. Quando olhamos dentro do Darma, vemos o Buda e a Sanga. Portanto, sem o Buda e a Sanga não pode haver Darma. Não podemos separá-los, mas eles têm nomes diferentes, denominações convencionais, prajnapti.
“Denominação convencional” é um termo que usamos temporariamente, por conveniência. A palavra “criança” é um substantivo que usamos, mas dizer “criança” não significa que não vejamos os antepassados e os descen¬dentes dessa criança. Quando dizemos “criança” deve¬mos ser capazes de entender o pai e a mãe; só então podemos entender realmente a criança. Usamos a palavra “criança” para não confundir-nos no momento.
Nós temos de manter simultânea consciência do Buda, do Darma e do Caminho. Para onde quer que olharmos, vemos o Buda, o Darma e o Caminho. Vemos que eles não são três coisas separadas.
No início deste ensinamento, Mestre Lin-chi fez três afirmações: “Verdadeiro Buda é nossa mente pura. Verda¬deiro Darma é a luz do corpo. O verdadeiro Caminho é a pura luz sem restrição que resplandece em todas as direções”. No caso daqueles cujo nível de prática é intenso, já amadurecido, a primeira afirmação já basta para acordá-los; eles conseguem compreender a verdade absoluta, e essa é a primeira afirmação, transmitida com franqueza. A linguagem já não precisa levar nenhum significado, nenhuma idéia, nenhum exemplo, nenhuma intenção.
Basta um grito, um golpe ou uma palavra para libertar a outra pessoa. Essa é a primeira afirmação; o fruto está maduro e só é preciso colhê-lo.
Mesmo que só entendamos depois da segunda afirmação, ainda podemos nos tornar professores de humanos e deuses. A segunda afirmação é um meio hábil, um símbolo, um exemplo para ajudar a abrir a compreensão da outra pessoa. O professor cria o meio hábil para ajudar a outra pessoa a perceber sua mente e libertar-se dela. Graças ao meio hábil, a outra pessoa pode despertar e compreender alguma coisa, mesmo que esse não seja o primeiro nível, o mais alto. Ainda assim, essa pessoa pode ser professor de outras. Mas se só compreendemos depois de chegar à terceira afirmação, não podemos sequer salvar-nos, muito menos aplicar os ensinamentos para ajudar outrem. Ainda não temos experiência bem sucedida com a prática. O Mestre Lin-chi ensinou: “O Patriarca Bodidarma veio da Índia com um único propósito: achar uma pessoa que não fosse iludida por outras”. O mestre não procurava o Buda, ele só veio e procurou uma pessoa. Talvez Bodidarma tenha vindo só em visita e sem nenhum propósito concreto. Costumamos dizer que Bodidarma veio com tais ou quais propósitos, mas estes são projeções nossas.
O Primeiro Patriarca, Bodidarma, estava sentado em meditação numa gruta quando o Monge Huike chegou. Huike ficou diante da gruta por dias, embora o frio fosse extremamente intenso ali fora. Finalmente, Bodidarma teve pena dele e perguntou: “Por que vieste? Por que estás aqui?” “Vim aqui pedir-te que acalmes minha mente”, respondeu o Monge Huike. “Onde está tua mente? Apresente-a. Eu a acalmarei para ti”, disse o mestre. “Não consigo achá-la. Não posso apresentá-la”, respondeu o monge. “Então eu acalmei tua mente!”, disse Bodidarma. Ao ouvir isto, Huike despertou-se e deu-se conta claramente de que todo o empenho que dedicara à sua prática tinha sido inútil. Uma afirmação bastou para que Huike despertasse.
Se ao ouvirmos esta afirmação soubermos jogar luz para refletir sobre nossa mente e já não estivermos buscando mais nada, entenderemos que nosso corpo e nossa mente não diferem do corpo e da mente do Buda e dos grandes mestres. Neste exato momento, nos tornamos pessoas sem objetivo. Isto é o que se chama alcançar o ensinamento ou não consecução. Significa que já temos o ensinamento que nosso professor está transmitindo.
Do livro: NADA A FAZER, NÃO IR A LUGAR NENHUM de Thich Nhat Hanh