Português 1 | Português 2 | Inglês |
Da manhã à noite a vida nos apresenta uma série de problemas. Alguns nos incomodam pouco ou nada. Vou
comer ovos ou cereais no café da manhã? Vou no mercado hoje ou na sexta? Quando tenho que trocar o óleo? Na verdade, consideramos estes não problemas, mas decisões menores.
Então o que torna um problema um problema pra mim? O que me deixa acordado à noite ou, no mínimo, chateado e irritado? A resposta é sempre a mesma: quando o *meu* ponto de vista, o *meu* êxito, *meus* desejos, *minha* segurança ou *meus* interesses são contrariados, eu fico incomodado; sinto que *tenho*
que encontrar uma solução, tenho que resolver esta situação inconveniente.
Tendo um ‘problema’ começo a ponderar, considerar, analisar, ler, consultar e me agito. Algumas vezes vou
suprimir ou evitar o problema através de várias manobras: no excesso (de bebida, de comida, de
trabalho, de exercício) ou na apatia (dormindo, retirando-se, se perdendo no banal) — nossos truques
são infinitos e de uma variedade incrível. Manobrar foi o que aprendi a fazer então é o que eu faço. E
quando eu perpasso um problema, outro logo aparece. Vivida desta maneira, a vida parece mesmo dura e um
peso.
Existe um erro em tudo isso? Acho que sim. No meu ingênuo entendimento de que meu ‘problema’ está
separado de mim, coloco todas as minhas energias em atacar o meu problema. O que falho em ver (mesmo não
quero ver) é que de nenhuma forma sou separado de problema algum: sou eu mesmo. Se o problema sou eu,
sendo eu mesmo sou capaz de ver clara e facilmente o que precisa ser feito.
Agora, pra sermos honestos, a maioria de nós não vê isso (‘Se minha mulher não fizesse essas besteiras,
claro que eu não estaria chateado!’)
A prática consiste em ver através da dualidade ilusória de mim com um problema fora de mim mesmo;
consiste em estar atento à totalidade de mim enquanto sofro. Quando sou capaz de permanecer completamente
atento à totalidade do momento — só o sofrimento — este estado de atenção ou de experiência é a solução.
Soa nebuloso ou louco? Pode ser. Ainda assim isto é o que é a prática: estar totalmente atento ao que algo é
(mesmo quando é um ‘problema’). Então o que que acontece? Existe um problema? Existe uma solução?
Por favor descubra.
Palestra do Darma
Tradução para o português de
Maria Heleosina Ribeiro Pessôa
Da manhã até a noite, a vida nos apresenta uma série de problemas. Alguns nos chateiam outros não. Eu devo ter cereais para o café da manhã? Eu devo ir ao supermercado hoje ou sexta-feira? Onde devo trocar o óleo? Na verdade, não consideramos estes como problemas, mas como pequenas decisões.
Assim o que faz com que um problema seja um problema para mim? O que me mantém acordada à noite ou, pelo menos, nervosa e irritada? A resposta é sempre a mesma: quando meu ponto de vista, meu sucesso, meus desejos, minha segurança, ou meus interesses são contestados, eu fico desconfortável, eu sinto que preciso achar uma solução, eu preciso resolver esta situação ameaçadora.
Ao ter um "problema", eu começo a avaliar, a me preocupar, a analisar, ler, consultar e a ficar ansiosa.. Ou algumas vezes eu apago ou evito o problema através de várias manobras: fazendo coisas em excesso (bebendo, comendo, trabalhando, fazendo exercícios) ou a menos (dormindo, retraindo, perdendo-se em ninharias) – nossos truques são intermináveis e de variedade surpreendente. Manobrar foi o que aprendi a fazer e então eu faço. E quando eu me desliguei de um problema, logo aparece outro. Vivida desta maneira, a vida parece realmente longa e pesada.
Existe um erro nisto tudo? Eu penso que sim. Em minha suposição ingênua de que meu "problema" está separado de mim mesma, ponho todas as minhas energias no ataque ao problema. O que eu deixo de ver (não querendo mesmo ver) é que de nenhuma forma estou separada de qualquer problema: ele sou eu mesma. Se o problema for eu mesma, sendo eu mesma eu posso ver claramente e facilmente o que e se alguma coisa deve ser feita.
Agora, para ser honesta, a maioria de nós não vê isso ("se minha esposa não fizer coisas loucas como essas, é claro que eu não ficarei nervoso!").
A prática é ver através da dualidade ilusória do eu como um problema fora de mim mesma, é estar atenta à totalidade de mim mesma, a forma e a medida em que sofro. Quando posso permanecer atenta à totalidade do momento – apenas sofrendo – esta atenção ou experiência é a solução.
Isto parece confuso ou louco? Pode ser. Persista, isto é o que é a prática: ser totalmente atenta ao que quer que seja (mesmo quando seja um "problema"). Então o que acontece? Existe um problema? Existe uma solução?
Por favor descubra.
Dharma Talk
Retirado do site www.prairiezen.org
From morning till night, life presents us with a series of problems. Some bother us little or not at all. Should I have eggs or cereal for breakfast? Should I go to the supermarket today or Friday? Where should I have my oil changed? In fact, these we consider not to be problems, but minor decisions.
So what makes a problem a problem for me? What keeps me awake at night or, at the least, upset and irritated? The answer is always the same: when my viewpoint, my success, my desires, my security, or my interests are opposed, I become uneasy; I feel I must find a solution, I must resolve this threatening situation.
Having a ‘problem,’ I begin to ponder, worry, analyze, read, consult and stew. Or sometimes I will suppress or avoid the problem with various maneuvers: by over-doing (drinking, eating, working, exercising) or under-doing (sleeping, retreating, getting lost in trivia) — our tricks are endless and of amazing variety. Maneuvering is what I have learned to do and so I do it. And when I have staggered through one problem, another soon appears. Lived this way, life seems tough and burdensome indeed.
Is there an error in all this? I think so. In my naive assumption that my ‘problem’ is separate from myself, I put all my energies into attacking my problem. What I fail to see (don’t even want to see) is that in no way am I separate from any problem: it is myself. If the problem is myself, in being myself I can see clearly and easily what if anything needs to be done.
Now, to be honest, most of us don’t see this (‘If my wife didn’t do such foolish things, of course I wouldn’t be upset!’)
Practice is about seeing through the illusory duality of myself with a problem outside of myself; it is about being attentive to the totality of myself as I suffer. When I can remain completely attentive to the totality of the moment — just suffering — this attentiveness or experiencing is the solution.
Does that sound unclear or crazy? It may. Still, this is what practice is: being totally attentive to what is (even when it is a ‘problem’). Then what happens? Is there a problem? Is there a solution?
Please find out.