Os Quatorze lembretes

OFERENDA DE INCENSO

Em sinal de gratidão, oferecemos este incenso a todos os Budas nas dez direções. Que sua fragrância penetre em nossa vida por meio dos nossos esforços cuidadosos, da consciência sincera e do lento amadurecimento da compreensão. Que nós e todos os seres possamos ser companheiros de Budas e boddhisatvas. Que possamos despertar do esquecimento e compreender o nosso verdadeiro lar.

INTRODUÇÃO

Hoje, a comunidade pediu-me para ler os quatorze lembretes. Imploro ã comunidade que me conceda apoio espiritual. Por favor, irmãos e irmãs, ouçam com a mente serena. Utilizemos esses quatorze lembretes como fonte de inspiração para despertar o esforço correto. Reflitamos sobre cada lembrete como um modo de atingir harmonia e unidade, tanto em relação aos outros como em relação a nós mesmos.

PRIMEIRO LEMBRETE

Não idolatremos nem nos apeguemos a nenhuma doutrina, teoria ou ideologia, incluindo as do budismo. Permitam-nos ver todos os sistemas de pensamento como instrumentos de orientação e não como verdades absolutas.

SEGUNDO LEMBRETE

Não acreditemos que o conhecimento que atualmente possuímos seja imutável, a verdade absoluta. Evitemos a estreiteza da mente e a limitação às perspectivas atuais. Aprendamos a praticar o caminho aberto do desapego das perspectivas e sejamos abertos para receber os pontos de vista dos outros.

TERCEIRO LEMBRETE

Não abusemos da autoridade, do dinheiro, da instrução ou de qualquer outro instrumento para forçar as outras pessoas, inclusive as crianças, a adotar o nosso ponto de vista. Com o diálogo compassivo, ajudemos a nós mesmos e aos outros a renunciar ao fanatismo e a estreiteza.

QUARTO LEMBRETE

Não evitemos o contato com o sofrimento nem fechemos os nossos olhos ao sofrimento. Sejamos atentos à existência do sofrimento no mundo. Que descubramos maneiras de estar com aqueles que estão sofrendo e confortá-los.

QUINTO LEMBRETE

Não acumulemos riquezas enquanto milhões de pessoas morrem de fome. Não adotemos como objetivo de nossa vida a fama, o lucro, a riqueza ou o prazer sensual. Vivamos com simplicidade e compartilhemos o nosso tempo com as pessoas carentes. Não desperdicemos o alimento, o trabalho ou o tempo dos outros.

SEXTO LEMBRETE

Não alimentemos a raiva ou o ódio. Observemos como ele surge da separação e busquemos logo a reconciliação para restaurar a harmonia e a unidade. Sejamos compassivos para conosco e para com os outros.

SETIMO LEMBRETE

Não nos percamos na identificação com tudo o que acontece, mas utilizemos a energia da prática para que ela nos ajude a lembrar-nos constantemente de nós mesmos.

OITAVO LEMBRETE

Não digamos coisas que possam criar discórdia e causar divisão na comunidade. Façamos o melhor para nos reconciliar e resolver todos os conflitos, por menores que sejam.

NONO LEMBRETE

Não digamos mentiras nem espalhemos boatos para obter lucro pessoal ou impressionar os outros. Não critiquemos nem condenemos as coisas das quais não temos certeza, mas sempre falemos a verdade e de maneira construtiva. Que tenhamos, porém, a coragem de levantar a voz contra a injustiça, até mesmo quando isso possa ameaçar o nosso bem-estar.

DÉCIMO LEMBRETE

Não utilizemos a comunidade budista para obter ganho ou lucro pessoal, nem para transformar a comunidade num partido político. Respeitemos os edifícios e a terra da comunidade como um lugar de trabalho sagrado.

DÉCIMO PRIMEIRO LEMBRETE

Não sigamos uma vocação prejudicial aos seres humanos ou à natureza. Não apoiemos atividades que privem outros seres da oportunidade de viver. Que tenhamos, na medida do possível, uma vocação que não vã contra os nossos ideais de compaixão.

DÉCIMO SEGUNDO LEMBRETE

Não nos matemos e, se possível, impeçamos os outros de matarem. Utilizemos todos os meios possíveis para proteger a vida e impedir a guerra.

DÉCIMO TERCEIRO LEMBRETE

Não tiremos as coisas que pertencem aos outros, mas respeitemos a propriedade dos outros. Esforcemo-nos para dissuadir os outros de usar o sofrimento humano para enriquecer.

DÉCIMO QUARTO LEMBRETE

Tratemos o nosso corpo com respeito e não o utilizemos mal, nem o tratemos como um simples objeto. Utilizemos a expressão sexual como um meio de amor e compromisso e estejamos cientes do sofrimento que seu mau uso pode causar a nós mesmos e aos outros. Sejamos plenamente conscientes da responsabilidade de trazer novas vidas ao mundo.

Irmãos e irmãs, eu li em voz alta os quatorze lembretes, como a comunidade pediu. Sejamos gratos pela oportunidade de refletir juntos, no inicio deste sesshin, sobre esses quatorze lembretes.

INVOCAÇÃO AOS BUDAS E BODHISATTVAS

Pedimos aos Budas e patriarcas que atingiram o despertar para livrar-nos do sofrimento que obstrui, da herança de nossas vidas passadas e que nos ajudem a compartilhar a força do mérito que preenche as palavras incontáveis. Os Budas e patriarcas no passado eram como nós, e nos transformaremos no futuro em Budas e patriarcas.

ARREPENDIMENTO GATHA

Todas as más ações cometidas por mim desde os tempos imemoriais, nascidas da ganância, da raiva e da ignorância, surgidas do corpo, da palavra e da mente, eu agora me arrependo de as ter cometido.

OS QUATRO VOTOS

Todos os inúmeros seres,
Faço votos de liberar;
Infinitas paixões cegas,
Faço votos de erradicar;
Pelos inúmeros portões do Dharma,
Faço votos de penetrar;
O grande Caminho do Buda,
Faço votos de adotar.