A palavra correta

Aquilo que você diz a uma pessoa, ela pode guardar para sempre


Texto de Sylvia Boorstein,
extraído do livro
É mais fácil do que você pensa

Uma tabuleta no armazém de Jimtown, perto de onde moro, diz: Tome cuidado com as palavras que usa, Que sejam bem poucas e doces, Pois nunca se sabe qual delas um dia você mesmo terá de engolir.

Penso muito no fato do Buda ter criado um categoria à parte para a Palavra Correta. Ele poderia ter incluindo-a na Ação Correta, pois falar é uma forma de ação. Durante algum tempo, pensei que a fala ocupava uma categoria separada porque falamos muito. Mas depois mudei o meu ponto de vista – algumas pessoas não falam muito. Agora, acho que ela ocupa uma categoria separada por causa do poder que a palavra tem. Li uma frase em uma revista, alguns anos atrás. Tratava-se de um tapa-buracos acrescentado ao final da coluna porque o artigo não era suficientemente grande. Não me lembro do nome da revista nem do tema do artigo, mas lembro-me da frase. Ela dizia: “Paus e pedras talvez quebrem os meus ossos, mas as palavras podem me ferir para sempre.” Às vezes, durante uma aula, eu digo: “Levantem a mão os que já sofreram algum tipo de fratura óssea.” Depois que as pessoas levantam as mãos, eu digo: “Não abaixem a mão se o osso ainda estiver doendo.” Em geral, todas as mãos são abaixadas. Depois eu digo: “Levantem as mãos se ainda estiverem se sentindo magoados por causa de algo que lhes disseram no ano passado.” Muitas mãos são levantadas. “Mantenham as mãos erguidas se ainda estiverem magoados por causa de uma observação que alguém lhes fez nos últimos cinco anos.” As mãos continuam levantadas. “Nos últimos dez anos … vinte anos … trinta anos … uma observação que tenha sido feita quando vocês tinham menos de cinco anos de idade.”

Muitas pessoas ainda conservam uma das mãos erguida. Elas olham em torno e sorriem timidamente, mas não creio que alguém estivesse achando a coisa engraçada. Este é um belo momento de comiseração compartilhada, de sermos testemunha de que todos nascemos para carregar a carga representada pela dor das observações ofensivas. Talvez pensemos que, se fôssemos adultos maduros, teríamos superado as reprimendas sofridas na infância. Pergunto-me se algum dia chegaremos a conseguir isso. Acho que somos todos muito vulneráveis, como bombas recheadas de creme – firmes por fora mas frágeis por dentro, e muito doces. Na década de 60, quando o espírito da época era não guardar nada consigo, pensei várias vezes em escrever um livro intitulado Guardando Tudo para Si. Acho que estava alarmada com a possibilidade de que as pessoas tivessem deixado de perceber o quanto todos nós somos vulneráveis. Recentemente mudei o título de meu livro para Guardando Tudo para nós até Descobrirmos como Falar sobre Isso de uma Forma Proveitosa. Creio que somos obrigados a dizer a verdade. Dizer a verdade é uma maneira de cuidar das pessoas. O Buda pregou a honestidade completa, além de alertar para o fato de que tudo o que a pessoa diz deve ser verdadeiro e proveitoso. Quando o Buda ensinou a Palavra Correta, ele nos proporcionou um guia para fazer correções. Advertências e conselhos devem ser oportunos, sinceros, amáveis e proveitosos. Quando falo às pessoas sobre esses critérios, elas freqüentemente exclamam: “Mas desse jeito nunca seria possível advertir alguém!” Penso de outra forma. Acho que com a Palavra Correta, as pessoas podem fazer sugestões ou observações de modo que a outra pessoa possa ouvi-la e usá-la sem sentir-se diminuída.