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Biografia
THICH NHAT HANH, chamado carinhosamente por todos de Thây, nasceu no Vietnã do Centro em 1926. Aos 16 anos iniciou sua vida religiosa na tradição zen budista Thien Lam-Te, ou Rinzai (no Japão), que surgiu no sec. III no Vietnam. Poeta e ativista pela paz, trabalhou em sua juventude para que o budismo vivesse em harmonia, reconciliação e fraternidade com a sociedade vietnamita.
Durante a guerra no Vietnam renunciou ao isolamento monástico para ajudar ativamente o seu povo e, desde então, tem sempre dado a prática religiosa um empenho social e político pela paz.
Mestre zen, é monge há mais de 40 anos. Fundou no Vietnã a School of Youth for Social Service, uma organização para reconstruir os lugarejos destruídos e para reinstalar as milhares de pessoas que fugiram da guerra. Também fundou a Van Hanh Buddhist University, a La Boi Press e a Tiep Hien Order of lnterbeing.
No ano de 1964, de retorno de uma viagem de estudo aos Estados Unidos onde durante dois anos fez um curso de Religiões Comparadas na Universidade de Princeton, participou no Vietnam da criação de um dos mais significativos movimentos de resistência sem-violência do século XX. Participou junto com um grupo de professores e estudantes universitários vietnamitas da fundação da Escola de Jovens para Serviço Social (réplica do modelo americano do “Pequeno Corpo de Paz”): grupo de leigos e religiosos que se empenharam na campanha de criar escolas, hospitais e, mais tarde, na reconstrução das aldeias bombardeadas, sofrendo ataques de ambos contendores: comunistas (Vietnam do Norte) e não-comunistas (Vietnam do Sul). Fundou também durante a guerra, em 1964, na Universidade Budista Van Hanh, a Ordem Tiep Hien, (Ordem Interser), que deriva da Escola Zen Budista de Lin Chi, e está na 42ª geração dessa escola. Devido ao seu empenho em terminar com a violência que afligia seu povo, Thich Nhat Hanh foi impedido de retornar ao seu país pelos contendores.
Em 1966, Thich Nhat Hanh desembarcou nos Estados Unidos para fazer um ciclo de palestras como porta voz do povo vietnamita aos líderes militares americanos, advogados, líderes religiosos e ativistas sociais. No ano de l967, devido ao seu imenso esforço e pregação sem violência, pela reconciliação entre o Vietnam do Norte e o do Sul, ele foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz por Martin Luther King, Jr.
Em 1969, Thich Nhat Hanh chefiou a Delegação Budista Vietnamita da Paz na Conferência de Paz em Paris e permaneceu na França até que os acordos fossem assinados em 1973. Após a Assinatura do Acordo de Paz, quando tentou retornar ao país, não mais foi permitido seu ingresso no Vietnam, e até hoje ele vive em exílio na França, onde continua a servir a seu povo através da organização de esforço de salvação dos povos dos barcos no Golfo do Sião (Tailândia). Os governos da Tailândia e de Singapura logo impediram este corajoso projeto.
Em 1982, tendo como colaboradora a monja Chân Không, sua colega de muitos anos, fundou Plum Village, uma comunidade budista para monges e monjas, situada próxima a cidade de Bordeaux, no sudeste da França,
onde ensina a “Arte de Viver em Plena Consciência”. Em seus retiros participam a cada ano milhares de pessoas, procedentes de todas as partes do mundo. Plum Village não é somente um refúgio para aqueles que buscam paz interior através de práticas de plena consciência; é também um “um lar fora de seu lar” para muitos expatriados
vietnamitas, onde eles podem visitar e experimentar muitos elementos de sua tradicional cultura. Ainda hoje Thich Nhat Hanh continua a escrever, ensinar e fazer palestras. É autor de inúmeros livros sobre meditação, cura e transformação, e também inúmeros poemas. Ele dirige retiros em vários lugares do mundo, e também workshops de cura para veteranos da guerra do Vietnam. Thay, como seus estudantes carinhosamente o chamam, viaja regularmente para os E. U. onde continua ensinar budismo engajado, responsabilidade social e dissolução da violência através da prática do viver consciente.
Em 1987 veio ao Brasil, visitando as cidades do Rio de Janeiro e Belo Horizonte onde conduziu retiros e pronunciou palestras, originando o livro editado pelo Instituto Solaris, Respirando e Sorrindo.
Em 1997 foram estabelecidos em Vermont (E.U.) o Maple Forest Monastery e o Green Mountain Dharma Center como centros dessa tradição na América. Mais recentemente foi criado também na Califórnia o Deer Park Monastery.
Embora a luta pela reconciliação no Vietnam tenha significado para ele ter que renunciar a sua pátria, ele conquistou inúmeras honrarias ao redor do mundo.
Thich Nhat Hanh tem transmitido o budismo tanto a noviços quanto a leigos, não só no Vietnã, seu país, e no seu exílio na França, como também nos diferentes países em que, como figura de proa, é chamado a comparecer nas conferências de paz.
Quando ainda no Vietnã, exerceu o principal papel no “budismo engajado” – renovação religiosa da qual foram gerados inúmeros projetos, combinando ajuda às vítimas e oposição não violenta à guerra. Seu trabalho deu origem à Escola de Juventude para Serviços Sociais no Vietnã e à Universidade Van Hanh. ‘Budismo engajado”, como era conhecido esse movimento, segundo palavras do próprio Thich Nhat Hanh, “é um termo redundante, já que budismo significa estar consciente, estar desperto para o que está acontecendo no seu próprio corpo, sentimentos e mente, como também no mundo que o cerca. Se você está desperto, não pode agir de outra forma senão compassivamente para aliviar o sofrimento que vê ao redor.
O budismo é, portanto, implicitamente engajado. Se não é engajado, não é budismo”.
É autor de numerosas obras (75 livros), todas vazadas em estilo simples e profundamente perceptivo, características fundamentais de um mestre zen.
Procura mostrar o que é a meditação dirigida à compreensão. Para ele, compreender não é obra do pensamento que reflete, e sim da contemplação consciente que percebe e intui. Com seu estilo simples, profundo e compassivo, Nhat Hanh utiliza elementos da psicologia budista, da epistemologia e da fisica contemporânea, servindo-se de muitas historietas para acompanhar o leitor em sua Jornada da atenção consciente para o insight.
Os seguintes livros já foram editados em português:
Caminhos para a paz interior
Flamboyant em chamas
Meditação andando
Respirando e sorrindo (lnst. Solaris)
Vietnã – Flor de lótus em mar de fogo (Ed. Paz e Terra)
O coração da compreensão (Ed. Bodigaya)
Para viver em paz – O milagre da mente alerta (Ed. Vozes) – 1976
Paz a cada passo Como manter a mente desperta no seu dia-a-dia – 1990
Vivendo em paz – Como praticar a arte de viver conscientemente (Ed. Pensamento) – 1992
O Sol Meu Coração – da atenção à contemplação intuitiva – 1995
Cultivando a Mente do Amor – 1996
Vivendo Buda, vivendo Cristo (Ed. Rocco) – 1997
Jesus e Buda, Irmãos (Ed. Bertrandi Brasil) -2002
Livros
Cultivando a mente de amor
Flamboyant em chamas
Jesus e Buda, Irmãos
O coração da compreensão
O sol meu coração – da atenção à contemplação intuitiva
Para viver em paz – O milagre da mente alerta
Paz a cada passo – Como manter a mente desperta no seu dia-a-dia
Vivendo Buda, vivendo Cristo
Vivendo em paz – Como praticar a arte de viver conscientemente
Textos
A Força da América
A vida religiosa é vida
As portas da liberação
Como transformar o nosso adubo
T´ô
Interser
Momento presente, momento maravilhoso
O corpo de fé
O diálogo: a chave da paz
O diamante que corta as ilusões
O nascimento do amor
O nascimento da compreensão
O meu sorriso está com o dente-de-leão
O suco de maçã de Thanh Thuy
Os Cinco Agregados
Os Cinco Maravilhosos Treinamentos da Consciência
Respiração consciente
Rosas e lixo
Um rio de percepções
Um é o todo, o todo é o um
Vinte e quatro horas novinhas em folha
Palestras
Visão Búdica – Retiro de Junho de 2000 em Plum Village
Retiro de Dezembro de 1999 em Plum Village
Começando Novamente – 10 de maio de 1998
Vivendo Juntos em Harmonia – 11 de julho de 1998
Conhecendo o Melhor Modo de Viver Sozinho – 5 de abril, 1998
Meditações Para os Doentes e os Moribundos – 11 de agosto de 1996
Transcendendo A Injustiça: A História de Quan Am Thi Kinh – 28 de julho de 1996
Práticas para o Século XXI – 21 de julho de 1996
A Arte de Curar a Nós Mesmos – 13 de julho de 1996
A TRADIÇÃO BUDISTA THIEN LAM-TE
UM RAMO DE UMA ÁRVORE ANTIGA
O mestre Thich Nhat Hanh pertence a uma linha de transmissão do Budadharma que teve suas raízes plantadas no Vietnam, no séc. III d.C, mas que remonta ao budismo originário, tanto Mahayana quanto Theravada, vindos do Buda Sakyamuni. Dentre a tradição indiana de meditação (dhyana em sânscrito, thien em vietnamita, zen em japonês, e ch’an em chinês) Mahayana, da qual se nota a principal influência, tanto no Cânone chinês quanto na tradição vietnamita, são a Sarvativada e a Yogachara ou Vijnanavada. A Sarvativada, de origem Theravada, surgiu durante o reinado do rei Ashoka (272-236 a.C.) vinda da Escola Sthavira (fruto por sua vez da primeira divisão da Sangha, durante o Concílio de Pataliputra, no séc.IV a.C.).
A Escola Sarvativada, cujo cânone foi transmitido em sânscrito e traduzido para chinês e tibetano, línguas nas quais tem estado preservado, sustentava que o passado, o presente e o futuro existem no mesmo instante. Sua obra básica, o Abhidharmakosha, copilado em 600 versos por Vasubandhu, o 21º patriarca do Budismo, no séc. V, representa a mudança da Tradição Theravada para a Mahayana.
Vasubandhu e seu irmão Assanga fundaram a Escola Mahayana Vijnanavada, e segundo ela, “tudo é apenas mente”, não se podendo sustentar ser o objeto distinto do sujeito. A percepção “é um processo da imaginação criativa que produz a aparência dos objetos externos”. Tal processo é explicado com a ajuda do conceito de “consciência armazenadora”, alayavijnana, na qual estão presentes todas as sementes (bija) da formação mental e que continuam a fluir, como um rio, de existência a existência.
A Escola Yogachara alcançou seu apogeu no séc. VI. O centro de estudo mais famoso foi a Universidade de Nalanda, no norte da Índia. O Sutra Lankavatara é a referência desta escola, no qual é enfatizada a iluminação que elimina toda dualidade possível de atrapalhar a compreensão da natureza búdica presente em todos os seres, o tathagatagarbha. Com esta fonte de ensinamentos fica-se de acordo com os da Escola Theravada do Sri Lanka, cujos mestres chegaram ao Vietnam através do Camboja e do Laos, sobre tudo nos últimos 200 anos. Esta união representa um caso único no mundo, quem afirma é o mestre Thich Nhat Hanh em seu livro “História do Budismo Vietnamita”.
O primeiro patriarca do budismo thien foi o mestre Tang Hoi. Originário do norte do país, Tang Hoi fez o comentário aos sutras referentes ao budismo original, como o Anapananusmrti (título sânscrito do sutra da Plena Consciência à Respiração) com uma visão mahayana. Entre os seus célebres comentários há também os sobre Os Oito Mil Versos do Prajnaparamita. No Vietnam, Tang Hoi difundiu a doutrina do vazio e escreveu a “Antologia das seis virtudes trancendentais”. Depois partiu para o reino Wu, na China meridional, onde construiu o primeiro templo budista. Na China Tang Hoi permaneceu por trinta e três anos, até a sua morte. Somente 200 anos depois, em 580, o 21º patriarca do budismo originário, Bodhidharma, começou a difundir na China os ensinamentos dhyana da qual germinaria a tradição Ch’an.
“A plena consciência da respiração – escreveu o mestre Tang Hoi no prefácio do Comentário sobre o Anapananusmrti Sutra – é o grande veículo usado por todos os Budas para salvar os seres que estão lutando e submerso no oceano do sofrimento”. Tang Hoi ensinava a meditação como sendo o método para “eliminar um milhão e trezentos mil pensamentos nocivos que enchem nossa mente dia e noite, sem estarmos conscientes disso”. E explicava que por “voltar” se entende, o ingresso da mente a um estado de plena consciência e de “purificação” dos pensamentos insanos sem o que ela não fica “limpa”, livre das percepções errôneas.
No séc. III, Kalasivi, outro mestre de Tongking, traduziu o Sutra Saddharmasamadhi e no ano 450, ainda em Tonking, chegou da Índia Dharmadeva, mestre de tradição mahayana, com seu aluno vietnamita, Hue Thang, ensinou meditação baseando-se no Sutra do Lótus. Logo após, três escolas budistas chinesas começaram a influenciar a tradição budista do Vietnam.
Particularmente importante foi a escola do mestre Vinitaruci (séc. VI), inspirada no Tantrayana, e a do mestre Vo Ngon Thong (séc. IX), baseada na doutrina da Iluminação Súbita e do Não Apego. O chefe da segunda escola, o chinês Pai Chang (720-814), sublinhou a importância de se combinar a meditação sentada com o trabalho monástico. Famoso por seu ditado: “Um dia sem trabalho, um dia sem comida”. Estas duas escolas marcaram profundamente o desenvolvimento sucessivo do budismo no Vietnam. Dessas, realmente, foi fonte de inspiração, no séc. XII, a Escola do Bosque de Bambu, do mestre Hien Quang.
No período histórico durante o qual o Vietnam teve que enfrentar as tentativas de invasões por parte dos mongóis, o budismo floresceu como nunca e alcançou sua idade de ouro. Hien Quang transmitiu o Dharma ao rei Tran Thai Tong e depois a um importante professor, Tue Trung, irmão mais velho do rei Tran Nhan Tong, que defendeu Tongking dos ataques do exército mongol em 1284 e 1287.
Tran Thai Tong (1218-1277) abdicou em favor de seu filho quando tinha 41 anos, e passou a se dedicar totalmente a prática e a escrever suas duas obras: “Guia do Zen” e “Lições sobre a Vacuidade”, esta última encontra-se traduzida por Thich Nhat Hanh no seu livro “Uma Chave para o Zen”. Tran Nhan Tong, outro que além de soberano e de herói nacional, foi também patriarca e grande mestre da Escola do Bosque de Bambu, a qual deu a primeira ordenação sistemática.
Todos esses ensinamentos foram influenciados pela escola chinesa fundada pelo mestre Lin-chi (Rinzai em japonês e Lam-Te em vietnamita), que introduziu novos meios hábeis, como o kung an (cong an em vietnamita, e Koan em japonês) e ao uso do grito repentino Oh! após o golpe do kyosaku (o bastão símbolo da espada da sabedoria do Bodhisattva Manjushri, que quebra toda ilusão, e utilizado para encorajar os meditadores – não para puni-los – durante as seções intensivas de meditação).
Durante a dinastia Tran, que durou até o ano1400, o Vietnam era um país unido e forte. O budismo difundia como nunca e entre 1295 e 1319 foram escritos mais de 50 mil livros, uma edição do Tripitaka e muitas outras obras. A Escola do Bosque de Bambu ordenou entre os anos 1300 e 1329 cerca de 15 mil monges e monjas.
A invasão chinesa da disnastia Ming no início do séc. XV marcou o princípio do declínio do budismo vietnamita. A independência foi obtida novamente somente após 25 anos, quando cerca de 90% dos textos tinham sido destruídos. Para não falar da discriminação dos neoconfuncianos nos confrontos com os budistas, que continuou por muito tempo. Dois séculos mais tarde, quando foi extinta a dinastia Ming, muitos monásticos chineses mestres das Escolas Lin-chi e Ts’ao-tsung (Soto em japonês), refugiaram-se no Vietnam. O budismo tornou a florir, ao ponto de, entre outras, se desenvolveu a escola do mestre Lieu Quan (1670-1742), aluno rinzai e soto, que tornou-se uma das mais importante do país.
No século XX a história do budismo no Vietnam se entrelaça com acontecimentos sociais e políticos particularmente dolorosos: a invasão francesa (devida a qual foi reforçada a religião católica) 100 anos após a unificação do país; a resistência armada e a introdução do comunismo; o regime filo-ocidental do presidente Ngo Dinh Diem (que aboliu a festa nacional do Vesak e causando o protesto em praça pública de monges e monjas budistas, alguns dos quais se imolaram vivos); a longa e desgastante guerra entre viet-cong e americanos, terminada com o Tratado de Paris em 1975, a qual deu sua contribuição a delegação budista presidida pelo mestre Thich Nhat Hanh.
Logo depois da queda da ditadura de Diem, em 1963, as organizações budistas fundaram a Igreja Budista Unida (CBU), a qual aderiram as Escolas Mahayana e Theravada. Em 1964 surgiram o Instituto Budista An Quang e a Universidade Van Hanh, das quais o mestre Thich Nhat Hanh foi co-fundador. A intenção desses centros era o de garantir os estudos a estudantes das tradições quer Mahayana, quer Theravada. Onze anos mais tarde, logo após a entrada no poder do governo comunista, os monges e monjas da Igreja Budista Unida começaram a sofrer severa repressão.
Além disso, os dirigentes de Hanói fundaram em 1980 uma Igreja Budista Estatal, excluindo a Igreja Budista Unida (CBU). Ainda hoje os expoentes mais idosos e importantes da Igreja Budista Unida estão em prisões, não obstante as tentativas de intercessão colocado no ato de Organizações Humanitárias como da Anistia Internacional.
Thich Nhat Hanh, foi exilado nos fins dos anos 60 (em sua pátria seus livros circulam com selo clandestino), e, então, por isso, é o único mestre da Tradição Thien que pode transmitir os ensinamentos. Seu nome de Dharma completo é Mestre de Dhyana Trung Quang Nhat Hanh, da 42ª geração da Escola de Dhyana Lam-Te e da 9ª geração da linhagem Lieu Quan do Dharma.