Na década de 60, Hakuun Yasutani Roshi começou uma série de visitas anuais para pregar o dharma nos Estados Unidos. Em cada visita, conduzia sesshins que duravam uma semana inteira, na parte sul da Califórnia. Como tantos outros que começaram a prática zen com Yasutani Roshi durante tais visitas, comecei a praticar intensamente com ele, por sete dias, todos os anos, e, no resto do ano, continuava meu zazen por conta própria. Aqueles sesshins eram bastante difíceis para mim, e devo acrescentar que, se alguma vez houve uma prática confusa, foi a minha. Entretanto, ter a oportunidade de estudar com ele, mesmo que fosse por sete dias a cada ano, e ver o que ele era: humilde, suave, vigoroso, espontâneo — era o suficiente para manter-me nesse caminho.
Ele já era muito idoso quando o conheci, perto dos oitenta e tantos anos, e apresentava algumas dificuldades físicas. Quando entrava no zendo, ficava atenta para ver se ele conseguia chegar até o lugar em que se sentava. Um homenzinho miúdo, curvado, entrando na sala. Quando começava a falar sobre dharma, eu não conseguia acreditar! Era como uma corrente elétrica percorrendo a sala:
a vitalidade, a espontaneidade, a devoção total. Não importava o que ele dizia, nem o fato de precisar de intérprete. Sua presença em si revelava o dharma: não se podia esquecê-lo depois de tê-lo visto uma só vez.
Duas qualidades em Yasutani Roshi impressionaram-me profundamente. Eu diria que ele era, ao mesmo tempo, luminoso e comum. Se olhássemos em seus olhos durante uma entrevista formal, veríamos que ali não existia nada, era como um espaço de milhares de quilômetros vazios. Era espantoso. Porém, de alguma forma, naquele espaço aberto havia a cura total.
Fora do zendo ele era apenas um homenzinho igual a todos, indo de um lado para outro com sua vassoura, de calças enroladas, comendo cenoura. Ele adorava cenoura.
Yasutani Roshi foi minha primeira experiência do que é um verdadeiro mestre zen e foi uma experiência de muita humildade, porque ele era muito humilde. Irradiavam-se dele liberdade, espontaneidade e compaixão, a jóia que todos nós buscamos com nossas próprias práticas. Entretanto, precisamos tomar cuidado para não buscar a jóia no lugar errado, fora de nós, e assim ficaremos sem ver que nossa vida em si é a jóia, talvez ainda em estado bruto, mas já perfeita, completa e inteira.
Quando se chega ao dharma de verdade, ele é muito simples e sempre disponível, contudo o problema é que não sabemos como vê-lo. Diante dessa falha, a jóia, a liberdade, nos escapa.