Como antes salientei, os pensamentos transitórios que flutuam naturalmente na mente, não são em si impedimento. Isto, infelizmente, não é comumente reconhecido. Mesmo dentre os japoneses que já estudaram e praticaram o Zen por cinco ou mais anos, existem muitos que interpretam mal a prática Zen, como uma paralisação da consciência. Existe, realmente, uma forma de zazen que tem o objetivo de conseguir tal coisa, mas não é o zazen tradicional do Zen-budismo. Vocês devem compreender que, por mais atentos que estejam na contagem da respiração, ainda perceberão qual é o seu campo visual, uma vez que seus olhos estão abertos, e ouvirão os sons normais a sua volta, pois seus ouvidos não estão tampados. Uma vez que o seu cérebro, do mesmo modo, não está adormecido, várias formas de pensamento voejam por sua mente. Eles, porém, não prejudicarão nem diminuirão a eficiência do zazen, a não ser que, avaliando-os como “bons” vocês se agarrem a eles, ou decidindo que são “maus” procurem impedi-los ou eliminá-los. Não devem encarar quaisquer percepções ou sensações como um obstáculo ao zazen, nem devem persegui-las. Dou ênfase a isto. “Perseguir” significa simplesmente que, no ato de ver, seu olhar fixo demora-se em objetos; no ato de escutar, sua atenção guarda os sons; e no processo de pensar, sua mente adere a idéias. Se vocês se permitem distrair-se com estas coisas, sua concentração na contagem das respirações ficará impedida.
Recapitulando: deixem que pensamentos passageiros aflorem e desapareçam como quiserem, não se distraiam com eles e nem tentem afastá-los, mas simplesmente concentrem toda a sua energia na contagem de suas inspirações e expirações ao respirar.
Terminando um período sentado, não se levantem, bruscamente, mas comecem balançando-se de um lado para o outro, primeiro em pequenos, depois em amplos movimentos, por mais ou menos meia dúzia de vezes. Poderão observar que seus movimentos neste exercício são o inverso daqueles que fizeram no princípio, para começar o zazen.