Elegia (Nicolás Guillén)
De “El son entero” – 1947
Tradução de Thiago de Mello
Pelo caminho do mar
veio o pirata,
mensageiro do Espírito Mau,
com sua cara de um só olhar,
e com sua monótona perna
de pau
Pelo caminho do mar.
Há que aprender a recordar
o que as nuvens não podem esquecer.
Pelo caminho do mar,
com o jasmim e com o touro,
com a farinha e com o ferro,
o negro, para fabricar
o ouro;
para chorar seu desterro
pelo caminho do mar.
Como vais esquecer
o que as nuvens ainda podem recordar?
Pelo caminho do mar,
o pergaminho da lei,
a vara para malmedir,
o látego para castigar,
a síflis do vice-rei,
e a morte, para dormir
sem despertar,
pelo caminho do mar.
Dura lembrança lembrar
o que as nuvens não podem esquecer
pelo caminho do mar.