Inviation au Voyage (Charles Pierre Baudelaire)
Tradução de Felipe D’Oliveira
Irmã… Filha… Pensa
na doçura imensa
da vida (os dois…) noutra paisagem…
Amar sem sofrer,
amar e morrer
no país feito à tua imagem…
Os sóis friorentos
desses céus nevoentos
tem para mim o mesmo encanto
misterioso e aziago
do teu olhar mago
brilhando sob um véu de pranto.
Lá, tudo é ordem… é riqueza…
e calma… e volúpia… e beleza.
Dos móveis amigos,
sem lustro, de antigos,
seria a alcova confidente…
Flores misteriosas,
casando, amorosas,
O seu perfume ao do âmbar quente,
os luxuosos tetos,
os espelhos quietos,
e morno esplendor oriental,
tudo… em grave calma,
falar-te-ia à alma
a sua doce língua natal.
Lá, tudo é ordem… é riqueza…
e calma… e volúpia… e beleza.
Vês?… Nos canais suaves
dormem naves… naves
cuja ansiedade é errar… é errar…
Tens um vago anhelo?
Só para atndê-lo
é que elas vem do fim do mar…
Os poentes maguados
vertem sobre os prados,
sobre os canais, sobre a cidade,
jacinto e ouro, em messe…
A terra adormece
numa serena claridade…
(Lá, tudo é ordem… é riqueza…
e calma… e volúpia… e beleza…)