A morte de vênus (Augusto dos Anjos)
Velhos berilos, pálidas cortinas,
Morno frouxel de nardos recendendo
Velam-lhe o sono… e Vênus vai morrendo
No berço azul das névoas matutinas!
Halos de luz de brancas musselinas
Vão-lhe do corpo virginal descendo
– Abelha irial que foi adormecendo
Sobre um coxim de pérolas divinas.
E quando o Sol lhe beija a espádua nua,
Cai-lhe da carne o resplendor da Lua
No reverbero dos deslumbramentos…
Enquanto no ar há sândalos, há flores
E haustos de morte – os últimos clangores
Da música chorosa dos mementos!