Poemetos (Paulo Leminski)
I
É quando a vida vase
É quando como quase.
Ou não, quem sabe.
II
Vim pelo caminho difícil,
a linha que nunca termina,
a linha bate na pedra,
a palavra quebra uma esquina,
mínima linha vazia,
a linha, uma vida inteira,
palavra, palavra minha.
III
O pauloleminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau a pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhadaputa
de fazer chover
em nosso piquenique
IV
manchete
CHUTES DE POETA
NÃO LEVAM PERIGO À META
V
apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme
VI
uma carta uma brasa através
por dentro do texto
nuvem cheia da minha chuva
cruza o deserto por mim
a montanha caminha
o mar ente os dois
uma sílaba um soluço
um sim um não um ai
sinais dizendo nós
quando não estamos mais
VII
pariso
novayorquizo
moscoviteio
sem sair do bar
só não levanto e vou embora
porque tem países
que eu nem chego a madagascar
VIII
nunca quis ser freguês distinto
pedindo isso e aquilo
vinho tinto
vinho tinto
obrigado
hasta la vista
queria entrar
com os dois pés
no peito dos porteiros
dizendo pro espelho
— cala a boca
e pro relógio
— abaixo os ponteiros
IX
nem toda hora
é obra
nem toda obra
é prima
algumas são mães
outras irmãs
algumas
clima.