Remorso póstumo

Remorso póstumo/strong> (Charles Pierre Baudelaire)

Tradução de Guilherme de Almeida

Quando fores dormir, ó bela tenebrosa,
Num negro mausoléu de mármores, e não
Tiveres por alcova e morada senão
Uma fossa profunda e uma tumba chuvosa;

Quando a pedra, oprimindo essa carne medrosa
E esses flancos sensuais de morna lassidão,
Impedir de querer e arfar teu coração
E teus pés a seguir a trilha venturosa,

O túmulo, que tem um confidente em mim
– Porque o túmulo sempre há de entender ao poeta -,
Na insônia sepulcral dessas noites sem fim,

Dir-te-á: “De que serviu, cortesã incompleta,
Não ter tido o que em vão choram os mortos sós?
– E o verme te roerá como um remorso atroz.

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