Sino partido (Charles Pierre Baudelaire)
Tradução de Paulo Cesar Pimentel
É tão triste e tão doce, em noites invernosas,
Escutar, junto ao fogo alegre e palpitante,
Dos ecos do passado as vozes dolorosas
Trazidas pelo som de um carrilhão distante.
Feliz do sino que, com notas vigorosas,
Ainda que muito velho, ergue um canto vibrante
E espalha seu cantar nas tardes silenciosas
Qual de uma sentinela o grito penetrante.
Minha alma é como um sino imponente, partido;
E quando quer cantar sob um céu estrelado,
Sua voz mais parece o estertor de um ferido
Cuja vida se esvai pelo sangue que escorre,
E que, sob um montão de mortos esmagado,
Num esforço final, tenta mover-se e morre!