Cítara mística (Augusto dos Anjos)
Cantas… E eu ouço etérea cavatina!
Há nos teus lábios – dois sangrentos círios –
A gêmea florescência de dois lírios
Entrelaçados numa unção divina.
Como o santo levita dos Martírios,
Rendo piedosa dúlia peregrina
À tua doce voz que me fascina,
– Harpa virgem brandindo mil delírios!
Quedo-me aos poucos, penseroso e pasmo,
E a Noite afeia como num sarcasmo
E agora a sombra vesperal morreu…
Chegou a Noite… E para mim, meu anjo,
Teu canto agora é um salmodiar de arcanjo,
É a música de Deus que vem do Céu!