Preceito 06 (Gregório de Matos)
Entremos pelos devotos
do nefando Deus Cupido,
que também esta semente
não deixa lugar vazio.
Não posso dizer, quais são
por seu número infinito,
mas só digo, que são mais
do que as formigas, que crio.
Seja solteiro, ou casado,
é questão, é já sabido
não estar sem ter borracha
seja do bom, ou mau vinho.
Em chegando a embebedar-se
de sorte perde os sentidos.
que deixa a mulher em couros,
e traz os filhos famintos:
Mas a sua concubina
há de andar como um palmito,
para cujo efeito empenham
as botas com seus atilhos.
Elas por não se ocuparem
com costuras, nem com bilros,
antes de chegar aos doze
vendem o signo de Virgo.
Ouço dizer vulgarmente
(não sei, é certo este dito)
que fazem pouco reparo
em ser caro, ou baratinho.
O que sei é, que em magotes
de duas, três, quatro, cinco
as vejo todas as noites
sair de seus esconderijos
E como há tal abundância
desta fruita no meu sítio,
para ver se há, quem as compre,
dão pelas ruas mil giros.
E é para sentir, o quanto
se dá Deus por ofendido
não só por este pecado,
mas pelos seus conjuntivos:
como são cantigas torpes,
bailes, e toques lascivos,
venturas, e fervedouros,
pau de forca, e pucarinhos.
Quero entregar ao silêncio
outros excessos malditos,
como do Pai carumbá,
Ambrósio, e outros pretinhos.
Com os quais estas formosas
vão fazer infames brincos
governados por aqueles,
que as trazem num cabrestinho.