Solte os cachorros – trechos do livro (Adélia Prado)
” Pai que estais no céu e dentro do meu coração, inclinai vossos ouvidos para o meu sofrimento e tende piedade de mim que tenho casa de cimento e vidro e não posso dormir no campo sob um manto de estrelas.”
“Coisa dolorosa feita de barro e poeira, o homem no seu quarto, de noite, pelejando pra escrever no papel, com lápis, nó e tropeço, a dor do seu peito.”
“O mais triste no passarinho engaiolado é que ele ainda cante, ou assim, que dá na mesma: que é triste demais, por desgraçado e insolvente, o homem rir de si mesmo.”
“O mal de Pakinson ensinou nós todos a dançar.”
“Que graça tem o meu boteco prosperar se faltar alegria dentro da minha casa? Segue o fio da amargura das pessoas pra ver onde ele vai parar: esbarra no pai e na mãe.”
“Eu só quero dizer que se a gente esforçar pra ser pai e mãe com decência, parar de pensar na gente, pra incomodar mais com este que nós pusemos no mundo, eles vão dar conta de sofrer sem perder a esperança.”
Prado, Adélia – Solte os cachorros / Adélia Prado – São Paulo: Siciliano, 1991.ISBN 85-267-0398-6