Monólogo de uma Senhora (Augusto dos Anjos)
A Morte me livrou da contingência
A que a matéria bruta não escapa,
De ver meu rosto, etapa por etapa,
Murcho, mirrado, coriáceo, ausência.
O Anjo iníquo da degenerescência
Que azeda o vinho, a alma e a garapa,
E cobre o mundo com a negra capa,
Povoa a terra toda de excrescênclia.
Quando da vida me arrancou chorosa,
Deteve o bisturi da ruga odiosa,
E o triunfo rude da madrasta Hstória.
Liberta dessa carne miserável
Fico guardada bela, inalterável,
Nos Arcanos insondáveis da Memória.