Bacias Centrais
de Angra dos Reis

Bacias Centrais de Angra dos Reis
Hidrografia
Amostragem de peixes
Taxonomia de peixes
Conservação
Comunidades
História
Geografia
Economia
Uso da Água
Uso do Solo
Principais ameaças
Literatura citada
Lotes considerados


HIDROGRAFIA

A bacia hidrográfica é definida como um conjunto de terras drenadas por um rio e seus afluentes, formada nas regiões mais altas do relevo por divisores de água, onde as águas das chuvas, ou escoam superficialmente formando os riachos e rios, ou infiltram no solo para formação de nascentes e do lençol freático. As águas superficiais escoam para as partes mais baixas do terreno, formando riachos e rios, sendo que as cabeceiras são formadas por riachos que brotam em terrenos íngremes das serras e montanhas e à medida que as águas dos riachos descem, juntam-se a outros riachos, aumentando o volume e formando os primeiros rios, esses pequenos rios continuam seus trajetos recebendo água de outros tributários, formando rios maiores até desembocarem no oceano.
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Barrella, 2001

As bacias centrais de Angra dos Reis (fig.1) banham uma área de 181,7 km2, estando limitada ao norte pelas bacias centro-norte de angra dos Reis, ao leste pela Baia da Ilha Grande, ao sul pelas bacias centro-sul de Angra dos Reis e ao oeste pela bacia do rio Paraíba do Sul.

Figura 1 – Bacias Centrais de Angra dos Reis e seus limites

As bacias centrais de Angra dos Reis é formada de sul para norte (Tabela 1) pelas bacias dos rios Caputera, Jurumirim, Ariró, Floresta e Florestão e pelas microbacias do Imbu. A bacia do rio Ariró é uma bacia do Tipo A, “bacias de média extensão” que apresentam área variando entre 67 e 730km²; suas nascentes estão localizadas no planalto a uma altitude superior a 1.400m, no estado de São Paulo e, por isto, os rios que cortam os dois estados são considerados de domínio federal. As bacias dos rios Caputera, Jurumirim e Florestão são bacias do Tipo B, “bacias de pequena extensão” que apresentam área entre 12 a 70km². A bacia do rio Floresta e as bacias que formam as microbacias do Imbu são bacias Tipo C, “bacias muito pequenas”, que apresentam área inferior a 12km² (Francisco & Carvalho, 2004).

Bacia do Caputera
A bacia do Caputera (fig.2) é formada pelo rio Caputera, também denominado rio Areia do Pontal, acrescido dos córrego costeiros: Córrego Porto Vitória (0,5 km) ao norte e Córrego Ponta do Partido I (0,7 km), Córrego Ponta do Partido II (0,5 km) e Córrego Ponta do Partido III (0,9 km) ao sul. A bacia do Caputera (Areia do Pontal) é caracterizada uma bacia de morfodinâmica coluvial, em que predominam processos coluviais e a existência de extensa relação entre do sistema de encostas com a calha (Silva & Silva, 2018).

Figura 2 – Bacia do Caputera

O rio Caputera tem um comprimento de 12,7 km, com sua nascente a 1.158 metros de altitude e desagua na baía da Ilha Grande (fig 3). O rio Caputera (ou rio Pontal da Areia) é um dos mais crítico para alagamentos, tem cinco pontos críticos. As inundações ocorrem no baixo curso do rio.

Figura 3 – Perfil do rio Caputera

Imagens da bacia do rio Caputera

Bacia do Jurumirim

A bacia do rio Jurumirim (fig.4) tem 70% de sua área coberta por Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica), fazendo parte da maior faixa contínua de floresta primária e secundária em avançado estágio de regeneração do estado do Rio de Janeiro, e em sua foz comum com o rio Ariró possui um manguezal preservado. (Kronemberger et. al., 2005). A bacia do Jurumurim é caracterizada como uma bacia de morfodinâmica mista, em que os processos de trechos coluviais e aluviais se intercalam (Silva & Silva, 2018).

Figura 4 – Bacia do Jurumirim

Na bacia do rio Jurumirim (fig. 4) a Regional Frade operada pelo SAAE administra o subsistema Serra D’Água com captação é feita na barragem de acumulação Serra D´água com vazão de 1,0 l/s, que abastecem as localidades de Serra d´Água e Zungu (Consorcio Fator, s/d).

Rio Jurumirim – Os 4,6 km do rio Jurumirim é praticamente plano (fig. 5) e seu trecho final ao desaguar na Baía da Ilha Grande, forma junto com o rio Ariró uma grande área de manguezal. Ele é formado pela junção do Rio da Guarda com o Rio da Pedra Branca.

Figura 5 – Perfil do rio da Jurumirim

Rio da Guarda – O rio da Guarda, principal formador do rio Jurumirim, tem sua nascente a 1.168 metros de altitude, percorrendo uma distância de 9,4 km até sua junção com o rio da Pedra Branca para formar o Jurimirim. Possui uma inclinação média de 15,6% e uma inclinação máxima de 88,4% (fig. 6). Os principais afluentes do rio da Guarda são o rio Zungu em sua margem direita e o córrego Água Linda e o rio Campo Alegre em sua margem esquerda.

Figura 6 – Perfil do rio da Guarda

Rio Zungu – O rio Zungu, tributário da margem direita do rio da Guarda, tem sua nascente principal a 1.066 metros de altitude, percorrendo 9,1 km até sua foz no rio da Guarda. Com uma inclinação média 15,0% e uma inclinação máxima de 76,1% (fig. 7). Seu principal afluente na margem direita é o córrego Barro Branco com 4,3 km de extensão.

Figura 7 – Perfil do rio Zungu

Rio da Pedra Branca – O rio da Pedra Branca que junto com o rio da Guarda forma o rio Jurumirim, tem sua nascente a 1.214 metros de altitude e percorre uma distância de 7,7 km até seu encontro com o rio da Guarda. Possui uma inclinação média de 17,7% e uma inclinação máxima de 80,4% (fig.8). Seu principal afluente é o córrego Estreito, com 3,5 km em sua margem esquerda.

Figura 8 – Perfil do rio da Pedra Branca

Imagens da bacia do rio Jurumirim

Bacia do Ariró

A Bacia do rio Ariró (fig.9) possui 24,2 Km2 (43%) de sua área no município de Bananal (SP) e 32,5 Km2 (57%) no munícipio de Angra dos Reis (RJ), onde desagua na Baia da Ilha Grande. A bacia do Ariró é caracterizada como uma bacia de morfodinâmica de alta complexidade geomorfológica, que representam as bacias de grande dimensão e/ou variedade de trechos/segmentos identificados e onde os processos aluviais e coluviais atuam com elevada intensidade (Silva & Silva, 2018).

Figura 9 – Bacia do rio Ariró

Na bacia do rio Ariró (fig. 9) a Regional Frade operada pelo SAAE administra o subsistema Ariró com captação na barragem de acumulação Ariró com vazão de 2,8 l/s, que abastece a localidade de Ariró (Consorcio Fator, s/d).

Rio Ariró – O rio Ariró tem suas cabeceiras nas escarpas da Serra da Bocaina e da Serra do Sinfrônio. É formado pela junção do córrego da Conceição com o Ribeirão João Rodrigues, ainda em terras paulista, a uma altitude de 1.072 metros. Deste ponto percorre 16,8 Km até o manguezal na Baía da Ribeira. Possui uma inclinação média de 9,6% com inclinação máxima de 83,2% (fig. 10). Os afluentes mais importantes do rio Ariró, após sua formação são: o córrego do Torres (5,0 km) na margem esquerda e o rio Parado (4,4 km) e o córrego do Sal (3,0 km) na margem direita. Estes dois últimos banham a Terra Indígena Guarani do Bracuí. O rio Ariró inspira cuidados especiais em relação a alagamentos, já que são quatro pontos críticos ao longo de sua extensão. Quando o rio enche muito, chega a impedir o acesso ao bairro e as residências no entorno são atingidas.

Figura 10 – Perfil do rio Ariró

Ribeirão João Rodrigues – O Ribeirão João Rodrigues, um dos formadores do rio Ariró, tem suas nascentes em Bananal (SP), a uma altitude de 1.452 metros, percorrendo uma distância de 8,9 Km até encontrar-se com o córrego da Conceição, com uma inclinação média de 9,6% e inclinação máxima de 60,6 % (fig. 11).

Figura 11 – Perfil do Ribeirão João Rodrigues

Córrego da Conceição – O córrego da Conceição, formador do rio Ariró na interseção com ribeirão João Rodrigues, tem sua nascente principal a 1.073 metros de altitude, com comprimento de 2,8 km. Sua inclinação média é de 11,1% e a máxima de 51,3% (fig. 12).

Figura 12 – Perfil do córrego da Conceição

Bacia do Floresta

A bacia do rio Floresta (fig. 13) é formada pelo rio Floresta e seus afluentes. Banha uma área de 6,8 Km2 totalmente no município de Angra dos Reis.

Figura 13 – Bacia do rio Floresta

Rio Floresta – O rio Floresta tem sua nascente principal a 970 metros de altitude, descendo com uma inclinação média de 15,9% e máxima de 85,2%, em percurso de 8,1 km até a sua foz na baía da Ilha Grande (fig.14).

Figura 14 – Perfil do rio Floresta

Bacia do Florestão

A bacia do rio Florestão (fig. 15) é formada pelo rio Florestão e seus afluentes. Banha uma área de 12,6 Km2 totalmente no município de Angra dos Reis. A bacia do Florestão ao igual que a do rio Jurumurim é caracterizada como uma bacia de morfodinâmica mista, em que os processos de trechos coluviais e aluviais se intercalam (Silva & Silva, 2018).

Figura 15 – Bacia do rio Florestão

Rio Florestão – O rio Florestão tem sua nascente principal a 1.124 metros de altitude, descendo com uma inclinação média de 16,3% e máxima de 80,9%, em percurso de 9,0 km até a sua foz na baía da Ilha Grande (fig.16).

Figura 16 – Perfil do rio Florestão

Microbacias do Imbu

As microbacias do Imbu (fig. 17) são formadas, de norte a sul, pelos córregos costeiros: Córrego Saco do Ariró (3,6 km); Riacho do Vilela (2,2 km); Córrego do Imbu (6,7 km); Córrego da Ilha Comprida I (0,7 km); Córrego da Ilha Comprida II (1,2 km) e Córrego Itinga (1,0 km). A bacia do Córrego do Imbu é caracterizada como uma bacia de morfodinâmica aluvial (Silva & Silva, 2018).

Figura 17 – Microbacias do Imbu

Nas microbacias do Imbu (fig. 17) a Regional Frade operada pelo SAAE administra o subistema Itanema, com captação em barragem de acumulação Itanema com vazão de 1,4 l/s, que abastece a localidade de Itanema (Consorcio Fator, s/d).

Córrego do Imbu – O córrego do Imbu (fig. 18)


AMOSTRAGEM DE PEIXES


As bacias centrais de Angra dos Reis já foram amostradas para peixes de riachos, de acordo com os registros em coleções, em 34 pontos, com o tombamento de 211 lotes. Estas amostragens foram realizadas nos anos de 1945 (20), 1946 (11), 1948 (37), 1982 (9), 1987 (9), 1988 (4), 2002 (12), 2003 (10), 2005 (6), 2006 (6), 2007 (2), 2008 (25), 2010 (30), 2011 (2), 2014 (15), 2019 (10) e sem informação de data de coleta(3). Estas amostragens estão representadas por década no Gráfico 1.

Gráfico 1 – Amostragens nas bacias centrais por década

Os índices foram calculados considerando os pontos de amostragens e os lotes por cada 100 Km2 de bacia. As bacias do Caputera, do Jurumirim e do Floresta ficaram com índices de amostragem e de lotes superior à média das bacias centrais. As do Florestão apesar de ter o índice de pontos de amostragem dentro da média, o índice de lotes ficou abaixo da média. A bacia do Ariró e as microbacias do Imbu apresentaram os dois índices bem inferiores aos médios das bacias centrais (Tabela 2).

A distribuição dos pontos de amostragens estão representados na figura 19.

Figura 19 – Bacias Centrais da Microbacias de Angra dos Reis – Peixinho amarelo indicando os pontos de amostragens


TAXONOMIA DE PEIXES


Composição taxonômica – A Tabela 3 indica a composição taxonômicas da bacia centro norte. Foram amostrados até o momento 27 espécies, pertencentes a 16 subfamílias de 17 famílias, agrupadas em onze ordens de peixes de riacho.

A predominância foi dos Siluriformes com 40% das espécies, seguidos dos Characiformes com 27% (Tabela 4).


CONSERVAÇÃO

Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome.
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Mahatma Gandi

As Bacias Centrais de Angra dos Reis com uma área de 181,8 km2 possui 51 km2 de seu trecho superior, protegidos pela unidade de conservação integral – Parque Estadual de Cunhambebe e 12,186 km2 de seu trecho inferior, protegidos pela unidade de ação sustentável – Área de Proteção Ambiental dos Tamoios. O PE de Cunhambebe protege 6,5 km2 (36%) da bacia do rio Caputera, 30,5 km2 (44%) da bacia do rio Jurumirim e 14,0 km2 (25%) da bacia do rio Ariró. Por outro lado a APA de Tamoios protege 0,876 km2 (4,87%) do Caputera, 0,743 km2 (1,07%) do Jurumirim e 1,188 km2 (2,09%) do Ariró. Protege ainda 0,863 km2 (12,69%) da bacia do rio Floresta, 0,605 km2 (4,80%) da bacia do rio Florestão e 7,912 km2 (42,54%) da Microbacias do Imbu.


COMUNIDADES

Uma comunidade sustentável é aquela capaz de satisfazer as suas necessidades atuais sem diminuir as chances das gerações futuras de ressarcir suas próprias necessidades.
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Wilton Lazarotto

A bacia do rio Caputera envolve as comunidades do Pontal e Praia do Pontal. A bacia do rio Jurumirim abrange as comunidades de Águas Lindas, Serra D’água e Zungu, que se utilizam dos seus serviços ambientais. A bacia do rio Ariró banha a comunidade de Ariró. Estas comunidades fazem parte da zona rural, localizadas no Distrito de Cunhambebe (Sombra, 2018).
A TI Guarani do Bracuí tem parte de seu território com 21,3 Km2 distribuídos na parte superior das bacias do Ariró com 7,3 km2 (34,3%), do Florestão com 3,1 km2 (14,6%) e da microbacias do Imbu com 0,6 km2 (2,8%). Os restantes 10,3 km2 (48,4%) está distribuído na bacia do Bracuí.


HISTÓRIA

O passado não volta. Importantes são a continuidade e o perfeito conhecimento de sua história..
Lina Bo Bardi

Um dos mais antigos documentos sobre a área do atual município foi escrito por um técnico em artilharia, o alemão Hans Staden, contratado pela Capitania de S.Vicente, por volta do ano de 1550. Segundo esse relato, publicado em alemão em 1557, a área da baía de Angra era lugar de conflito entre índios tupinambás ao sul e tamoios ao norte. Possivelmente os índios Guaianases, conhecidos pelas outras tribos como Guaramumis, e que haviam se instalado na Ilha Grande e no “mediterrâneo” (ilhotas da baia) dos Reis, fizessem parte da grande família dos tupinambás mas, aparentemente, não falavam o tupi, segundo o historiador Capistrano de Abreu. Nenhuma povoação portuguesa na baía da Ilha Grande é mencionada no relato de Staden (Machado, 1995).
Mas Honório Lima (1889) relata que os portugueses já estavam na região a época de Staden. Se apossaram de Angra e da Ilha Grande, entre os anos de 1556 e 1559, famílias de portugueses vindos da Capitania de São Vicente com a finalidade de invadir a costa de Angra. Nesse tempo os povos indígenas que povoavam o território da Ilha Grande eram os Guaianazes. Em 1560 a povoação de Villa Velha foi reconhecida. De povoado, se tornou paróquia em 1593, fundada com o nome de Nossa Senhora da Conceição de Angra dos Reis da Ilha Grande. A paróquia, protegida pela Ilha da Gibóia (Atual Gipóia) se extendia do rio Itaguahy, ao sul, a Ponta do Cayruçú, ao norte. Entre os séculos XVI e XVII a abrigadíssima baía de Angra dos Reis foi alvo de saques e incursões violentas por piratas espanhóis. A Villa Velha ali permaneceu até 1617. Após o assassinato do padre da vila por questões amorosas, o povoado de Villa Velha foi abandonado, e a população sentindo que a villa havia sido excomungada, foi se abrigar próximo ao então recém construído Convento do Carmo (1601), onde se instala até hoje a sede do município. A localidade de Villa Velha permanece até hoje, habitada por pescadores, mas não há vestígios do seu ciclo histórico. A vila ganhou o nome de Angra dos Reis somente em 1835. Os limites se mantém como o são até hoje: o rio Caratucáia (Atual Garatucaia) a sul, rio Mambucaba, a norte a Serra do Mar em Bananal (SP) e Rio Claro (RJ) a oeste. A serra do mar se destaca na paisagem com relevos íngremes. Pontos de destaque na silhueta das montanhas incluem a pedra do Frade, a serra das Três Orelhas, e Cracoatinga. Toda a cumeeira serrana está abrigada dentro do Parque Estadual Cunhambebe, nos contrafortes serranos entre Paraty, Angra e Mangaratiba, e protege as nascentes fluviais de muitos rios da região. Descendo as montanhas se chega a baixada, onde se formam amplas áreas de várzea, como Bracuhy, Frade, Ariró, Japuhyba, Jurumurim, Itapicú, Jacuecanga e outros, onde riachos e brejos se espraiam pela paisagem.
Observando hoje o vale do Ariró, ocupado por grandes manguezais, parece difícil imaginar que o vale já foi uma importante via de comunicação com o interior do Brasil, ocupado por plantações e destilarias de aguardente, passagem de tantas tropas de mula que as ferraduras abandonadas no atoleiro de lama das trilhas eram suficientes para alimentar de matéria prima pequenas fundições artesanais na região, como escreveu Honório Lima em 1889 (Machado, 1995).


GEOGRAFIA

A configuração territorial é dada pelo conjunto formado pelos sistemas naturais existentes em um dado país ou numa dada área e pelos acréscimos que os homens superimpuseram a esses sistemas naturais...
(Santos, 1996

O relevo da bacia do Jurumirim está representado por duas grandes unidades: a Baixada da Serra D’água, que corresponde à planície aluvial, e as escarpas do planalto, denominadas Serra do Mar, com o nome local de Serra da Bocaina e Serra do Sinfrônio (Sombra, 2018)
A planície é formada por sedimentos quaternários de dois tipos: aluvionares e de mangue. Os depósitos aluvionares ocupam as calhas e planícies dos rios e são caracterizados por areias finas a médias e silte. Os depósitos de mangue são formados por sedimentos síltico-argilosos, ricos em matéria orgânica, recobertos por vegetação de mangue (Kronemberger, 2003).
O solo na bacia do jurumirim é frágil do ponto de vista físico, pois possui 83% de sua área recoberta por solos vulneráveis a erosão e não tem vocação para a agricultura: mais da metade de sua área (61%) é de classe de aptidão restrita para o uso agrícola, 26% são inaptas e apenas 7% têm aptidão moderada (Kronemberger, 2003).


ECONOMIA

A ferramenta mais poderosa em economia não é o dinheiro, nem mesmo a álgebra. É o lápis. Porque com um lápis pode-se redesenhar o mundo..
Kate Raworth

Desde do século XIX, a bacia do Jurumirim é uma importante via de comunicação entre o litoral e o interior, onde pode ser encontrado sítios arqueológicos remanescentes desse período (estradas carroçáveis e outras construções), que ligavam os portos de Jurumirim, Ariró, Angra dos reis, entre outros, às áreas produtoras de café no vale do paraíba. (Sombra, 2018)
Pelo vale do Ariró passava a “estrada de barro”, à margem da qual surgiu, na primeira metade do século XIX, S.Antonio do Capivari (hoje Lídice), no caminho em direção à S.João Marcos. Passavam também pelo vale as estradas do Caramujo (em direção à Bananal), e a “estrada João de Oliveira”, que desembocava na foz do rio Jurumim. O vale do rio Bracuí era outro caminho que subia a serra em direção à Bananal. Pelo vale do Mambucaba uma trilha articulada à navegação fluvial no baixo Mambucaba, atravessava a Serra da Bocaina em direção a Areias (Machado, 1995).
A Estrada do Caramujo, que ligava os portos de Angra dos Reis e Jurumirim a Rio Claro, por onde passava, até a construção dos trilhos da Estrada de Ferro D. Pedro II, toda a produção de café de Resende, Barra Mansa, São João Marcos, Bananal e São José do Barreiro, região pioneira na produção dessa lavoura no Vale (Novaes, 2004)
Na região do rio Jurumirim as principais atividades econômicas são as agropastoris (bananicultura, criação de gado e agricultura de subsistência), as extrativas (extração de areia do rio Jurumirim e exploração de brita), o pequeno comércio (bares, pensão, padaria, mercado, loja de móveis, casa de doces) e as pequenas indústrias (fábrica de blocos de cimento e tijolos e fábrica de gelo). (Kronemberger et. al., 2005)
O “Caminho Novo” foi a principal via de circulação entre S.Paulo e Rio de Janeiro até meados do século XIX. Em Angra, a via principal de acesso ao “caminho novo” foi através do vale do Ariró-Jurumim. Rumando em direção à S.João Marcos, a estrada, que atravessava a Serra do Mar, foi muito utilizada como rota terrestre para o contrabando do ouro (Machado, 1995).
Na primeira metade do século XIX, além dos portos de Angra dos Reis, Paraty, e Mangaratiba, desenvolveram-se pequenos portos em Jurumim, Ariró, Itanema, Frade, Mambucaba e Abraão. Todos os pequenos portos desse segmento da costa atlântica brasileira serviram para o escoamento de café, aguardente, cana e, principalmente, para o contrabando de escravos durante o século XIX (Machado, 1995). Os portos do Jerumerim, Ariró, Itanêma, Frade, mambucaba, Abrahão e Sítio Forte , representavam empórios comerciais para o escoamento da lavoura. Produtos vinham por transporte de cavalo a aprtir da Serra do mar. As lavouras de café e de cana para çúcar e aguardente eram as mais rentosas no final dos anos 1850 (Honório Lima, 1889).
Um engenho de açúcar se estabeleceu na segunda metade do século XIX no Bracuhy, Mas os terrenos mais baixos e pantanosos de Angra eram vitimados por doenças endêmicas, como a Febre Amarela, que assustava. Ademais no refluxo do mar um pantanal lamacento se espraiava, tornando o acesso difícil. e dificultou a instalação de certas atividades econômicas, como o engenho de açúcar do Bracuhy.
No Brasil colônia a fabricação do Anil em Angra atingiu alguma prosperidade, aproveitando a abundância de sílica localmente, mas depois desapareceu.
Após 1850, com o advento da Estrade de Ferro estabelecendo contato entre Rio e São Paulo, e ramificando-se em várias localidades, Angra deixou de ser rota do comércio que abasteria o interior, e entrou em decadência.
Em 1884 devido a uma epidemia de cólera na Europa, foi erguido um Larazeto no Abraão, na Ilha Grande, na antiga fazenda do Hollandez, e posteriormente ampliado um módulo na Praia Dois Rios.
Muitas matas foram derrubadas para o plantio do café, atividade que prosperou no século XIX. Mas os solos outrora férteis para o café foram sendo esgotados ao longo do vale do Paraíba, onde a atividade ganhou mais pujança. Após a abolição da escravatura em 1889 muitas fazendas de café foram abandonadas, e a mata voltou a crescer nas serras.
O isolamento de Angra, distante 100 Km da capital, com principal acesso somente por mar, o relevo com altos vales muito íngremes e baixadas formando áreas brejosas, sujeita a doenças como o tifo e a febre amarela, tornaram a região pouco atrativa no início do século XX.
Com o término da II Guerra mundial vieram os imigrantes japoneses. Se instalaram na Ilha Grande para trabalhar em atividades ligadas a indústria pesqueira, especialmente sardinha. Mas a sobrepesca foi esgotando os estoques pesqueiros e os descendentes foram se instalar na cidade, para se dedicar ao comércio local.
Com a decadência o casario angrense do século XVIII construídos a época do contrabando de ouro e escravos, entrou em ruínas, e poucos sobreviveram até os dias de hoje.
p. 147- Honório Lima- Ermida na Ilha do Bonfim, construída em 1780. A construção era bem mais modesta do que a que existe hoje.


USO DA ÁGUA

A água é a base da vida. Nenhum ser vivo pode viver sem ela. Embora na superficie do globo tenha mais água do que terra, a quantidade de água potável e limpa é pequena e não se renova integralmente no ciclo hídrico. Nas últimas décadas, além de sugar e reduzir a capacidade dos aquíferos, a humanidade tem acelerado o processo de destruição das nascentes e aumentado a poluição dos rios, lagos, geleiras e oceanos. O acesso à água é um direito humano básico. Mas este direito só será eticamente justificável se a humanidade garantir o acesso à água para as demais espécies do Planeta. A água é de todo mundo e não pode haver exclusividades..
José Eustáquio Diniz Alves

As bacias centrais de Angra dos Reis estão dentro da UHP-9. UHP são as unidades hidrológicas de planejamento que utiliza as delimitações físicas das bacias e sub-bacias da região. Estabelecidas pelo Comitê das Bacias Hidrográficas da Ilha Grande adotando os seguintes critério: hidrografia, altimetria, uso e Cobertura do solo, geologia, captações de água, dominialidade dos cursos d’água, outras subdivisões já existentes (referentes ao Plano Estadual de recursos Hídricos e ao Zoneamento Ecológico Econômico do Setor Costeiro da Baía da Ilha Grande), limites municipais e estaduais e de localidades. (https://www.cbhbig.org.br/unidade-hidrologica).


USO DO SOLO

A terra é a grande provedora das necessidades humanas. É da terra que todos os povos tiram o seu sustento, sua alegria, seu vestuário e sua arte. Não apenas a terra que germina o grão, mas a que fornece os minerais, o barro dos objetos, o ferro do machado e o abrigo às intempéries se liga ao ser humano para criar sua cultura, mística e espiritualidade. Por isso, no processo de transformação da riqueza natural em objetos da riqueza humana, a fonte é sempre a terra e a natureza que a acompanha..
Carlos Frederico Marés

A ocupação do solo da UHP 9 se distribui conforme apresentação da Tabela 5

A UHP 9 está localizada entre as localidades do Frade, Pontal, Nova Itanema, Floresta, Ariró, Zungu e Água Linda, no município de Angra dos Reis. A maior parte da área é ocupada por floresta secundária em estágio médio e avançado de regeneração, com maior concentração próximo aos divisores de água da unidade, onde são observadas as maiores altitudes e a Unidade de Conservação Parque Estadual do Cunhambebe. Os manguezais estão concentrados próximos às desembocaduras dos rios desta Unidade, com destaque para a Área de Proteção Ambiental (APA) de Tamoios.
A ocupação humana na UHP apresenta, em geral, baixas densidades. Na porção oeste está localizada parte da Terra Indígena Guarani-Bracuí e no leste a comunidade quilombola Alto da Serra (Cameru). As áreas urbanas são caracterizadas, principalmente, pela presença de condomínios e estão localizadas próximo a linha de costa.
Nesta unidade estão localizados três pontos de disposição de resíduos sólidos: UPR Verde, que recebe resíduos de poda e roçada para trituração e encaminhamento para compostagem; Aterro Sanitário (CTR Costa Verde) que recebe os resíduos sólidos das cidades de Angra dos Reis e Paraty; e o Aterro controlado desativado da Prefeitura Municipal de Angra dos Reis.
Uma área considerável da bacia do Jurumirim foi ocupada por pastagens, em torno de 20%, onde se pratica predominantemente, a pecuária bovina de corte. Parte dessas áreas de pastagens surgiram com o aterro de áreas de manguezais e alagados, que foram drenados ao longo da segunda metade do século XX, quando também ocorreu a reutilização de parte dos rios Jurumirim e Zungu (Sombra, 2018).


PRINCIPAIS AMEAÇAS

O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais,logo acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si.
Deves ensinar a teus filhos que o chão debaixo de seus pés são as cinzas de nossos antepassados, para que tenham respeito ao país; conta a teus filhos que a riqueza da terra são as vidas da parentela nossa. Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo quanto fere a terra − fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.
De uma coisa sabemos: A terra não pertence ao homem, é o homem que pertence à terra, disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará.
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Cacique Seattle (1787-1866)
Tribo Duwamish

LITERATURA CITADA


  1. Barrella, W. et al. 2001. As relações entre as matas ciliares os rios e os peixes. In: Rodrigues, R.R.; Leitão filho; H.F. (Ed.) Matas ciliares: conservação e recuperação. 2.ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.
  2. Consorcio Fator. s/d. Estudos técnicos e planejamento para a universalização do abastecimento de água e esgotamento sanitário – Município de Angra dos Reis. Disponível em http://www.rj.gov.br/consultapublica/documentos/Grupo_4_-_Planos_Municipais_de_Saneamento/Planejamento_Universalizacao_-_Angra_dos_Reis.pdf. Acessado em 18/01/2022
  3. Francisco, C. N.; Carvalho, C. N. 2004. Disponibilidade hídrica – da visão global às pequenas bacias hidrográficas: o caso de Angra dos Reis, no Estado do Rio de Janeiro. Revista de Geociências – Ano 3, n.3. Niterói: Instituto de Geociência.

LOTES CONSIDERADOS


Foram considerados os seguintes lotes de coleções:
Tabela 6a Lotes da bacia do rio Caputera

Tabela 6b Lotes da bacia do rio Jurumirim

Tabela 6c Lotes da bacia do rio Ariró.

Tabela 6d Lotes da bacia do rio Floresta

Tabela 6e Lotes da bacia do rio Florestão.