Água de plantar, de colher a chuva – os cuidados com os cílios do córrego

Coluna da Luisa
Luisa é uma das criadoras do Coletivo Córrego da Tiririca. Ela nos brinda com suas considerações sobre diversos aspectos ligados direta ou indiretamente com nosso projeto.



Repetidamente ouvimos. O rio foi desmatado, está destruído.
Ou mesmo. O rio secou… A família de agricultores foi embora, largou a terra…
Porque o desmatamento é prejudicial?

Em sua condição natural os rios e riachos são protegidos em sua margem pela vegetação chamada de mata ciliar, composta por plantas que toleram ficar encharcadas durante certo período de tempo.

Como funciona a mata ciliar?
O nome “ciliar” remete aos cílios dos nossos olhos. Assim como os cílios nos protegem da entrada de poeira ou partículas nos nossos olhos, a mata ciliar é por analogia os cílios dos córregos.
Esta mata ciliar é composta por variadas plantas, terrestres, sub-aquáticas e aquáticas. As plantas funcionam como se fosse uma esponja, retendo a umidade após chuvas fortes e devolvendo aos poucos a água de volta ao rio.
É a mata ciliar que evita enxurradas e inundações, pois ela retém a água na cheia. Colhe essa água da chuva para usar quando está mais seco.
Outro importante papel da mata ciliar é segurar os sedimentos. O rio flui e na sua correnteza são carregados areia, cascalho terra, sedimentos. Em chuvas fortes a mata ciliar evita que os sedimentos do meio terrestre caiam excessivamente na água causando o que se chama assoreamento, ou seja, o depósito de terra no leito do rio. Sem mata ciliar, o aporte de terra para dentro do rio vai tornando-o cada vez mais raso.
Ah, e é claro. A mata ciliar é importante na manutenção da vida. Muitos peixes, insetos, caracóis e outros organismos se escondem na vegetação marginal, que funciona como um abrigo.
Ademais, a vegetação ciliar também é fonte de alimento. Afinal, muitos peixes gostam de pegar uma frutinha que cai na água.

O que acontece quando desmatamos?
A sombra fresca, que deixa a água numa temperatura agradável se vai. Aumenta a evaporação da água do rio, exposta a forte insolação. A água fica quente!
Sem o abrigo confortável da mata ciliar, muitos peixes e outros animais aquáticos simplesmente desaparecem do lugar.
O rio fica raso, perde suas características. Os ambientes aquáticos de galhos e folhas caídas da margem somem. O leito se torna um areal.
E cuidado! Se é um pequeno córrego ou nascente, a exposição leva a aridização e a nascente pode até secar.

E é possível recuperar a Mata ciliar? O que acontece?
Quando plantamos o rio em suas margens aos poucos ele volta a sua condição natural. A perda de água vai reduzindo, na medida em que a vegetação se instala. Microambientes se formam. Voltam libélulas, insetos aquáticos, aranhas, caranguejos de rio, e também as aves, as viuvinhas, as garças, socós, patos, também as preás, pacas, as pererecas, e é claro entre tantos outros os peixes! A intrincada rede de vida regressa. E o riacho renasce, em quantidade e qualidade de suas águas.
O rio não é meu nem seu, é de todos! A sombra fresca. O clima ameno. O riacho belo…
Que tal ser um plantador de água? E restaurar a vida no rio da sua vizinhança?

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