A árvore do Largo da carioca

Textos da Bebel

Resistir

Está ali… Há quanto tempo?… Não sei! Quantas histórias tem para contar?…

Linda, ela chamou a minha atenção. Um aceno cor-de-rosa, em meio ao trânsito caótico, à agitação dos carros e dos pedestres. Um aceno suave me devolveu a mim mesma, pensei: ela resiste. Resiste e se oferece aos nossos olhos cansados de tanta poeira, de tanta poluição e de tanta incompreensão. Parece nos aninhar com suas flores cor-de-rosa. Estas nos acariciam suavemente com suas pétalas aveludadas. Delicados buquês rosados aliviam, com delicadeza, o estresse do viver e a inquietação diante da agressividade do mundo. Alegre, altaneira, ela cresce em direção ao azul do céu, uma atmosfera iluminada se desenha à sua volta.

Meu olhar capturou aquela bela imagem. Contemplei-a. Fui envolvida por um encantamento indescritível. Pensei: quantas histórias teria para me contar aquela senhora experiente? Quantos encontros e desencontros ela testemunhou, naquela praça, outrora silenciosa? E, agora, como entender tanta agitação e tantos ruídos? Perdi-me em meus pensamentos enquanto me deslumbrava com a inesperada beleza. Em meio ao caos, a paz cor-de-rosa se apresentou e me paralisou. Solitária e silenciosa, a velha árvore nos convida a resistir.

Continuei o meu caminho em direção ao metrô, absorvida em meus pensamentos. Um carro estacionado com policiais, no lado oposto, me lembra a guerra, a intolerância. Volto à dura realidade. Sigo. Mas levo comigo a imagem daquela paineira que resiste às intempéries e cresce frondosa. Traz a vida em seus galhos flexíveis e coloridos, traz a vida na sua folhagem coberta de orvalho. Tira das profundezas o alimento de que precisa. Suas raízes certeiras atravessam camadas de lama e de lixo em busca da seiva que a faz bela aos nossos olhos.

Diante do ruído da cidade que não pode parar, ela se ergue generosa.

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4 respostas para “A árvore do Largo da carioca”

  1. Que lindeza, Bebel! Seu lirismo sempre a nos presentear com a delicadeza (e a doce lembrança do velho Braga…). Continue, por gentileza! Grande beijo!

  2. Que crônica esvoaçante!
    Sim, porque pude imaginar os galhos balançando ao vento, espalhando as hostorias outrora presenciadas, alegrando o caminho dos passantes e observadores.
    Linda e aconchegante essa crônica!

  3. A crônica me fez pensar na singeleza da natureza em contraste com a complexidade por vezes irracional do ser humano na contemporaneidade. A bela árvore espera com a paciência e perseverança que aceitemos o seu convite à paz, à harmonia, à fraternidade.

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