Luisa é uma das criadoras do Coletivo Córrego da Tiririca. Ela nos brinda com suas considerações sobre diversos aspectos ligados direta ou indiretamente com nosso projeto.
Existem pequenos peixes que vivem em ambientes temporários, e que são muito vulneráveis a supressão da vegetação. São os peixes das nuvens.
A razão deste nome é que em algumas regiões do nordeste a população acreditava que os peixes vinham com a água da chuva, pois “brotavam” da lama seca, onde não tinha vida alguma.
Acima, o macho, com tons vermelho-alaranjados e nadadeiras longas e coloridas. Embaixo, a fêmea, com duas máculas escuras nos lados do corpo e nadadeiras transparentes.
Estes pequenos peixes, do tamanho de um barrigudinho, tem ciclo de vida anual, ou seja, completam todo o ciclo de vida em ambientes aquáticos temporários, sendo encontrados em estagio adulto somente em breves períodos do ano.
Rapidamente crescem e amadurecem durante a estação chuvosa e quando vem a estiagem morrem, já que as poças que são seu hábitat secam. Os ovos permanecem em estado de diapausa, adormecidos, na lama úmida do fundo da poça e eclodem por ocasião do enchimento das mesmas, na estação chuvosa, renovando seu ciclo. Quando chove muito forte, os peixes anuais nos presenteiam com sua magnífica presença.
Mas esses peixes, que vivem em brejos na mata de baixada e na restinga estão ameaçados de extinção.
As pequenas poças temporárias nas baixadas costeiras onde vivem estão desaparecendo.
Conservar espécies da fauna e da flora passa pela manutenção de seus ambientes de vida. Todos nós podemos cuidar da vida, de perpetuar as espécies ameaçadas para que elas continuem a viver na nossa região.
A educação ambiental de jovens da comunidade é um caminho de tornar mais bem conhecidos os pequenos peixes de riacho.
Os peixes anuais se chamam Xenurolebias myersi, mas podemos chama-los de peixe anual do Itaúnas. São as jóias do rio Itaúnas!
Caminhos para conservar
A substituição das matas pela monocultura, principalmente de eucalipto, preocupa não só pela supressão em si, mas pela adoção de defensivos agrícolas nas plantações. O veneno escoa para as águas contaminando e comprometendo a vida aquática.
Por isso o diálogo entre o setor madeireiro e as áreas protegidas é tão importante. Buscar soluções conciliatórias, que beneficiem a todos. A empresa sai ganhando por ter protegido a vida aquática e o meio ambiente se beneficia de uma riqueza viva. Será este um sonho possível?
O Rio Itaúnas é um oásis de vida- Vamos proteger suas águas priorizando uma agricultura sustentável no vale.
Ao longo do vale do rio Itaúnas as quatro áreas de proteção integral (Córrego do Veado, Córrego Grande, floresta Nacional do Rio Preto e Parque Estadual de Itaúnas) mal chegam aos dois mil hectares de terra. Pela pequena dimensão destas áreas protegidas, as práticas agrícolas em seu entorno, tem enorme impacto, criando sérios riscos para que elas exerçam seu papel na conservação.
As reservas acabam sendo ilhas de biodiversidade isoladas, sem conexão entre si, e cercadas de todos os lados por eucalipto, pastagem e pequenas áreas de fruticultura.
O desmatamento do vale fluvial do Itaúnas e a substituição das matas por monoculturas com intensivo uso de veneno compromete a qualidade das águas, das quais as reservas são dependentes.
Nós temos a esperança de poder espalhar a ideia de trazer práticas agrícolas ambientalmente amigáveis ao vale do Itaúnas e dignificar a vida do trabalhador rural. Que passe a ter fartura em sua mesa e melhor qualidade de vida.
Agricultura ambientalmente amigável e educação ambiental. Vemos esse como um caminho conciliatório rumo ao desenvolvimento sustentável da região.
Vamos cultivar essa ideia?
A fauna que depende das áreas de baixadas para sua sobrevivência está seriamente ameaçada devido ao tipo de ocupação dessas regiões que privilegiam os seres humanos mas não exatamente as milhares de outras espécies que também necessitam de uma oportunidade para viver e reproduzir. os apelos de preservação das áreas úmidas com brejos, lagunas e demais pontos de águas paradas são desrespeitados e aterrados para outros usos que não preservam a biota aquática em especial. Já existem orientações de como manejar essas áreas mas elas são desconsideradas na maioria dos casos.