Peixinhos de riacho e a conservação dos córregos

Coluna da Luisa
Luisa é uma das criadoras do Coletivo Córrego da Tiririca. Ela nos brinda com suas considerações sobre diversos aspectos ligados direta ou indiretamente com nosso projeto.



Rios e riachos são povoados por peixes, muitos deles tão pequenos que cabem na palma da sua mão. Por serem tão pequeninos, eles precisam se proteger, e é isso que fazem muito bem. São bichinhos tímidos, e ariscos. Durante o dia ficam escondidos entre a vegetação aquática, ou entre as pedras do rio e é preciso um olhar curioso para ter a sorte de vê-los. Mas eles estão ali, são muitos, alguns coloridos e outros nem tanto e se confundem com o fundo do rio. São piabas, lambaris, mandis, carás, barrigudinhos, cascudos, bagrinhos e por aí vai. Esses peixinhos são assim chamados peixes de riacho. E como estamos na Mata Atlântica, peixes de riacho da Mata Atlântica. Eles nos presenteiam com sua magnífica presença quando nós temos um tempo para parar e simplesmente observar a água. Você já parou para ver o fluir da água do riacho? Pois experimente. Simplesmente se sente a margem do rio. Se debruce na ponte. Curta os sons. Observe. Quando o tempo está seco, e a água do rio fica mais clara, cristalina, e dá para ver o movimento deles. Essas pequenas formas de vida se entrelaçam com o ambiente do riacho, e dele dependem para viver. Por isso eles são muito delicados e sensíveis. Precisam da mata, da sombra, da água fresca, das frutas e insetos que caem na água para alimentá-los. Das raízes das plantas flutuantes para guardarem seus filhotes. Da mata ciliar para tirar aquele cochilo do dia. O riacho é cheio de vida, de dia e de noite.

Trichogenes claviger, espécie ameaçada de extinção, apenas encontrada em riachos de Mata Atlântica da região serrana ao sul do Espírito Santo. Foto: Juliana Paulo da Silva.

Tem riachos perto das nascentes, com pedras altas, seixos rolados e correnteza forte. E também aqueles de águas calmas, que formam lagoinha na nascente e suavemente seguem seu caminho. Tem ainda poças e brejos perto do mar, riachos de água doce escura, cor de chá mate, em plena restinga. São berçários da vida de água doce, e é preciso cuidá-los. A retirada das matas, o sol forte, acaba com o ambiente de vida das águas.

Nas cidades o risco vem principalmente do esgoto e lixo. O respeito a água doce vem com o saneamento, com o destino correto dos rejeitos, com a valoração dos ambientes das águas. Se você leitor, está na cidade, que te parece cuidar do rio do seu bairro?

No campo, a substituição das matas pela monocultura, preocupa não só pela supressão da vegetação original em si, mas pela adoção de agrotóxicos nas plantações. O veneno escoa para as águas contaminando e comprometendo a vida aquática. E não para por aí. A excessiva captação de água para irrigação reduz o nível de água do lençol freático. E o Brasil é campeão em agricultura irrigada! Não se questiona a prática agrícola, mas há outras formas de fazê-la com menor custo ambiental. O uso inadequado do solo vem também de uma tradição agrícola importada. Os colonizadores europeus vieram de um continente com baixa biodiversidade, talvez por isso não soubessem valorizar a opulência que aqui reina até hoje.

E assim, os ambientes aquáticos e seus peixes estão precisando de ajuda. Muitos peixes da Mata Atlântica estão ameaçados extinção, como o bagrinho capixaba ilustrado acima. Mas que utilidade ele tem? É mais um elo na intrincada teia da vida. E precisa ser utilitário? A natureza não está aqui para nos servir. Ela simplesmente está. E respeitar sua permanência é o que podemos fazer. Para finalizar, vamos pensar- durante sua vida, já notou diferença nos riachos que você conhece? Conta para nós!

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