Versos (Antero de Quental)
(escritos num exemplar das “flores do mal”)
As flores que nossa alma descuidada
Colhe na mocidade com mão casta,
São belas, sim: basta aspirá-las, basta
Uma vez, fica a gente enfeitiçada.
Nascem num prado ou riba sossegada,
Sob um céu puro e luz serena e vasta;
Têm fragrância subtil, mas nunca exausta,
Falam d’Amor e Bem à alma enlevada…
Mas as flores nascidas sobre o asfalto
Dessas ruas, no pó e entre o bulício,
Sem ar, sem luz, sem um sorrir do alto,
Que têm elas, que assim nos endoidecem ?
Têm o que mais as almas apetecem…
Têm o aroma irritante e acre do Vício !