BIOGRAFIA:
Walt Whitman nasceu em West Hills, Huntington (Long Island), a 31 de Maio de 1819, e foi educado com a rigidez característica dos quakers, comunidade de que sua mãe, Louisa Van Velsor, de origem holandesa, fazia parte.
O perfil de Whitman, que começara como paquete no escritório de um advogado e fora aprendiz de tipógrafo, era considerado pouco ortodoxo para um mestre-escola.
Em 1841 mudou-se para Manhattan (na infância e adolescência tinha vivido largas temporadas em Brooklyn). Trabalha como jornalista no Broadway Journal, dirigido então por Edgar Allan Poe, no Columbia Magazine, em New World e no Brooklyn Eagle (1846-48), de que foi despedido pelas suas posições anti-escravagistas.
Ecléctico, assina crítica de ópera e teatro, relatos de jogos de baseball, crónicas do quotidiano, artigos sobre a questão esclavagista, pequenos contos, ficção «gótica», guias de viagem, etc. É também dessa época a publicação de Franklin Evans (1842). Participa com ardor da vida da cidade, e, apesar da reputação de dandy, não deixa de frequentar night-clubs e bares de má nota, nem prescinde de conviver com operários e marinheiros.
Tem 29 anos quando lhe oferecem um lugar na redacção do Crescent, de Nova Orleans. Antes de regressar a Nova Iorque, onde editará o Brooklyn Freeman (1948-49), visita St. Louis e Chicago, atravessa o Michigan e vai até às cataratas do Niagara. Volta como free-lancer ao jornalismo, ajuda o pai na construção civil (com o mesmo desembaraço com que na adolescência havia alugado os braços à lavoura), trabalha numa papelaria e especula no imobiliário.
A morte do pai, Walter Whitman, ocorre em 1855. É o ano da primeira edição (anonima) de Leaves of Grass. O volume, de 100 páginas, não traz o nome do editor, nem o do autor. Apenas um retrato do poeta em mangas de camisa. O copyright é de Walter Whitman.
No Times, de Brooklyn, que edita entre 1857-59, escreve anoninamente textos laudatórios sobre si mesmo e acerca de Leaves of Grass. É a reacção à barragem hostil da crítica institucional, que via nele um «monstro». Quando, em 1860, vai a Boston para o lançamento da 3.ª edição (aumentada para 154 poemas), é já um autor reconhecido. Celebridades como Bronson Alcott, pedagogo e místico [1799–1888], H. D. Thoreau, escritor [1817–1862], ou Breck Trowbridge, arquitecto [1862-1925], não regateiam elogios e amizade.
Whitman tinha quase 42 anos quando rebentou a guerra civil (1860–65). Estava então em Brooklyn, na companhia da mãe, e colaborava num semanário, o Standard. O irmão mais novo, George, tinha-se alistado como voluntário. Em Dezembro de 1862, tinha recebido a notícia do ferimento do irmão, durante a primeira batalha de Fredericksburg (Virgínia).
Partiu imediatamente para Washington, fez uma busca exaustiva nos hospitais de campanha, instalados em igrejas e mansões, mas tudo em vão. O périplo deu-lhe uma imagem inescapável do conflito. Vai então para o front e encontra George, cujo ferimento não era grave. Mas, pela primeira vez na vida, viu a morte de muito perto. O relato dessa experiência foi mais tarde publicado em Memoranda During the War (1875-76).
Whitman era um unionista convicto, e o assassinato de Lincoln provocou nele uma angústia desmedida. Escreve, sob o efeito da tragédia, «When Lilacs Last in the Dooryard Bloom’d», uma elegia que é considerada um dos textos mais tocantes da literatura americana de todos os tempos.
O ano de 1871 é o da emancipação dos negros e da XIV Emenda à Constituição (que lhes dá o direito de votar). É também o ano da Exposição Internacional de Nova Iorque, onde Whitman declama alguns poemas inéditos, e o da 5.ª edição de Leaves of Grass, de que são feitas duas tiragens com poucos meses de intervalo. A coletânea colige agora um total de 273 poemas. Publica, ainda nesse ano, Democratic Vistas. O estilo é seco e descritivo. A obra questiona a corrupção social e política daqueles tempos. No ano seguinte vai a Hanover, no New Hampshire, a convite do Dartmouth College, uma universidade de tradições liberais.E, em 1873, sofre dois reveses significativos. A 23 de Janeiro, fica paralisado do lado esquerdo. Em Abril, recuperou parte da antiga agilidade. Mas, a 23 de Maio, Louisa Van Velsor, sua mãe, morre. Foi para ele o mais rude dos golpes. Tem crises de hemiplegia pertinaz, deixa-se abater, está um farrapo. Vai viver para casa do irmão George, em Camden (New Jersey).
Ainda não recuperado da depressão, fisicamente debilitado, é informado, em Julho de 1874, da sua demissão do Ministério da Justiça. Não desiste. Em 1876, faz sair dos prelos a 6.ª edição de Leaves of Grass (chamada «do centenário» por coincidir com o centenário da declaração de independência dos Estados Unidos), anualmente composta por si, em Camden, na tipografia de um amigo. A obra aparece desta vez em dois volumes: o 1.º reproduz a edição anterior e no 2.º aparecem os ensaios e
vinte poemas inéditos.
Divide agora o seu tempo entre Camden e Filadélfia, onde vivia Anne Gilchrist [1828-1885]. A autora de Life of Etty (1855), estudiosa e biógrafa de Blake e Mary Lamb, grande admiradora da poesia de Whitman, viveu nos Estados Unidos entre 1876-1879, tendo ajudado a aglutinar à volta do amigo um elo de apoios materiais e cumplicidades electivas. Em 1879, Whitman faz a sua primeira viagem ao Oeste. Está meio-paralítico, tem 60 anos, mas vai até ao outro lado do continente: parte de Filadélfia e atravessa as Montanhas Rochosas.
Em 1882 publica Collect, que inclui relatos do tempo da guerra civil. É ainda nesse ano que conhece Oscar Wilde, então com 28 anos. Wilde está de visita a Nova Iorque para uma série de conferências a pretexto do lançamento do seu primeiro livro de poemas.
Em 1888 sofre novo ataque de paralisia, mais grave que os anteriores. Nesse ano, com o apoio mecenático de Horace Traubel, vê publicados dois novos volumes: November Boughs, que reúne 62 poemas inéditos, e Complete Poems and Prose of Walt Whitman, um catarpácio de 900 páginas. A 8.ª edição (1889), publicada simultaneamente em Glasgow, na Escócia, esgota rapidamente.
A 26 de Março de 1892, aos 72 anos, morre paralítico. Foi sepultado em Camden (New Jersey).