A fonte de sangue

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A fonte de sangue (Charles Pierre Baudelaire)

Tradução de Theophilo Dias

Sinto o sangue escapar-me à veia enfebrecida,
Como fonte fugaz; harmônico e purpúreo,
Escuto-o soluçar com lírico murmúrio,
Porém me apalpo em vão; não encontro ferida.

É-lhe leito a cidade, e nela se despenha;
Referve, e cada pedra em ilha transfigura;
E vai matando a sede a cada criatura,
Colorindo de rubro as coisas que desenho.

O vinho aguça a vista e apura mais o ouvido:
Talvez, por isso, em vão, que adormeça, hei pedido
O meu roaz terror um momento sequer;

Em vão também no amor procuro o esquecimento;
Mas o amor, quanto a mim, não é mais que um invento
Com que nos suga o sangue a seda da mulher

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