Preceito 05

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Preceito 05 (Gregório de Matos)

Vamos ao quinto preceito,

Santo Antônio vá comigo,

e me depare algum meio,

para livrar do seu risco.

Porque suposto que sejam

quietos, mansos, benignos,

quantos pisam meus oiteiros,

montes, vales, e sombrios;

Pode suceder, que esteja

algum áspide escondido

entre as flores, como diz

aquele provérbio antigo.

Faltar não quero à verdade

nem dar ao mentir ouvidos,

o de César dê-se a César,

o de Deus a Jesus Cristo.

Não tenho brigas, nem mortes

pendências, nem arruídos,

tudo é paz, tranqüilidade,

cortejo com regozijo:

Era dourada parece,

mas não é como eu a pinto

porque debaixo deste ouro

tem as fezes escondido.

Que importa não dar aos corpos

golpes, catanadas, tiros,

e que só sirvam de ornato

espada, e cotós limpos?

Que importa, que não se enforquem

os ladrões, e os assassinos,

os falsários, maldizentes,

e outros a este tonilho?

Se debaixo desta paz,

deste amor falso, e fingido

há fezes tão venenosas,

que o ouro é chumbo mofino

É o amor um mortal ódio,

sendo todo o incentivo

a cobiça do dinheiro,

ou a inveja dos ofícios.

Todos pecam no desejo

de querer ver seus patrícios

ou da pobreza arrastados,

ou do crédito abatidos.

E sem outra cousa mais

se dão a destro, e sinistro

pela honra, e pela fama

golpes cruéis, e infinitos.

Nem ao sagrado perdoam,

seja Rei, ou seja Bispo,

ou Sacerdote, ou Donzela

metida no seu retiro.

A todos enfim dão golpes

de enredos, e mexericos

tão cruéis, e tão nefandos,

que os despedaçam em cisco.

Pelas mãos nada; porque

não sabem obrar no quinto;

mas pelas línguas não há

leões mais enfurecidos.

E destes valentes fracos

nasce todo o meu martírio;

digam todos, os que me ouvem,

se falo a verdade, ou minto.

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