Preceito 08 (Gregório de Matos)
As culpas, que me dão nele,
são, que em tudo o que digo,
me aparto do verdadeiro
com ânimo fementido.
Muito mais é, do que falo,
mas é grande barbarismo,
quererem, que pague a albarda,
o que comete o burrinho.
Se por minha desventura
estou cheia de percitos,
como querem, que haja em mim
fé, verdade, ou falar liso?
Se como atrás declarei,
se oudera cobro nisto,
a verdade aparecera
cruzando os braços comigo.
Mas como dos tribunais
proveito nenhum se há visto,
a mentira está na terra,
a verdade vai fugindo.
O certo é, que os mais deles
têm por gala, e por capricho
não abrir a boca nunca
sem mentir de fito a fito.
Deixar quero os pataratas,
e tornando a meu caminho,
quem quiser mentir o faça,
que me não toca impedi-lo.