Sete poemas portugueses (6) (Ferreira Gullar)
Calco sob os pés sórdidos o mito
que os céus segura – e sobre um caos me assento.
Piso a manhã caida no cimento
como flor violentada. Anjo maldito,
(pretendi devassar o nascimento
da terrível magia) agora hesito,
e queimo- e tudo é o desnoronamento
do mistério que sofro e necessito.
Hesito, é certo, mas aguardo o assombro
com que verei descer dos céus remotos
o raio que me fenderá no ombro.
Vinda a paz, rosa-após dos terremotos,
eu mesmo juntarei a estrela ou a pedra
que de mim reste sob os meus escombros.