Manhã de embriaguez

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Manhã de embriaguez (Arthur Rimbaud)

Ó meu Bem! Ó meu Belo! Fanfarra atroz em que não cambaleio.
Cavalete feérico!
Hurra para obra inaudita e para o corpo maravilhoso, pela primeira vez!
Assim isto começou e acabará: sob os risos das crianças.
Este veneno vai ficar em todas as nossas veias mesmo quando, a fanfarra indo embora, voltarmos à antiga desarmonia.
Ó agora nós tão dignos dessas torturas!
Ponhamos em ordem, ardentemente, esta promessa sobre-humana feita ao nosso corpo e à nossa alma criados: esta promessa, esta demência !
A elegância, a ciência, a violência !
Prometeram nos enterrar na sombra da arvore do bem e do mal, banir as honestidades tirânicas, para que conduzíssemos nosso muito puro amor.
Isto começou com alguns aborrecimentos e acabou – não podendo arrebatar-nos imediatamente desta eternidade, – isto acabou numa debanda de perfumes.

Riso das crianças, discrição dos escravos, austeridade das virgens, horror das figuras e dos objetos daqui, tornai-vos sagrados pela lembrança desta vigília.
Isto começava com toda a grosseria, eis que acabou com anjos de flama e gelo.

Pequena vigília de embriaguez sagrada !
Quando mais não fosse, pela máscara com que nos recompensaste.
Nós te afirmamos método !
Não esquecemos que glorificaste ontem cada uma de nossas idades.
Temos fé no veneno.
Sabemos dar nossa vida inteira todos os dias.

Eis o tempo dos ASSASSINOS.

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