Mater (Augusto dos Anjos)
Como a crisálida emergindo do ovo
Para que o campo flórido a concentre,
Assim, oh! Mãe, sujo de sangue, um novo
Ser, entre dores, te emergiu do ventre!
E puseste-lhe, haurindo amplo deleite,
No lábio róseo a grande teta farta
Fecunda fonte desse mesmo leite —
Que amamentou os éfebos de Sparta. —
Com que avidez ele essa fonte suga!
Ninguém mais com a Beleza está de acordo,
Do que essa pequenina sanguessuga,
Bebendo a vida no teu seio gordo!
Pois, quanto a mim, sem pretensões, comparo,
Essas humanas cousas pequeninas
A um biscuít de quilate muito raro
Exposto aí, à amostra, nas vitrinas.
Mas o ramo fragílimo e venusto
Que hoje nas débeis gêmulas se esboça,
Há de crescera há de tornar-se arbusto
E álamo altivo de ramagem grossa.
Clara, a atmosfera se encherá de aromas,
O Sol virá das épocas sadias…
E o antigo leão, que te esgotou as pomas,
Há de beijar-te as mãos todos os dias!
Quando chegar depois tua velhice
Batida pelos bárbaros invernos!
Relembrarás chorando o que eu te disse,
A sombra dos sicômoros eternos!